sábado, 7 de setembro de 2019

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sábado, 6 de julho de 2019

LUCAS 24

LUCAS 24



Os versículos finais de Lucas 23, e a parte inicial deste capítulo deixa bem claro que nenhum de Seus discípulos antecipou de alguma forma Sua ressurreição. Isso torna o testemunho mais pronunciado e satisfatório. Eles não eram entusiastas e visionários, inclinados a crer em qualquer coisa, mas sim de mente materialista e desanimada, inclinados a duvidar de tudo.
As mulheres são trazidas diante de nós em primeiro lugar. Elas não tinham pensamentos além daqueles adequados a um funeral comum. Suas mentes estavam ocupadas com o sepulcro, Seu corpo e as especiarias e unguentos que eram habituais. O sábado judaico, no entanto, interveio e pôs um fim às suas atividades – isto era de Deus, pois suas atividades eram totalmente desnecessárias, e quando poderiam tê-las retomado, o corpo sagrado não seria encontrado. Em vez do corpo morto, encontraram dois homens em vestes resplandecentes e ouviram de seus lábios que o Senhor agora era “o Vivente” e que não estava entre os mortos. Assim, o primeiro testemunho de Sua ressurreição veio dos lábios dos anjos. Um segundo testemunho foi encontrado nas palavras que Ele mesmo havia falado durante a Sua vida. Ele previu Sua morte e Sua ressurreição. Quando foram lembradas de Suas palavras, se recordaram delas.
As mulheres voltaram e contaram todas essas coisas aos onze; isto é, elas apresentaram-lhes a evidência dos anjos, e das próprias palavras do Senhor, e de seus próprios olhos, quanto ao corpo não estar no sepulcro; mas eles não creram. O cético moderno pode chamar essas coisas de “delírio” (ARA); bem, foi assim que essas coisas aparentavam ser para os discípulos. Pedro, no entanto, com sua impulsividade usual, deu um passo adiante. Ele correu para o sepulcro para ver por si mesmo, e o que viu até então confirmava as palavras delas. No entanto, em sua mente, milagre ao invés de fé, era o que entusiasmava.
Em seguida, somos levados para a tarde do dia da ressurreição, e Lucas nos dá na plenitude o que aconteceu com os dois que estavam indo para uma aldeia, a que Marcos alude nos versículos 12 e 13 de seu último capítulo. O incidente nos dá uma visão muito impressionante sobre o estado de espírito que os caracterizou – e, sem dúvida, eles eram figura do resto.
Cléofas e seus companheiros claramente tinham acabado de se afastar de Jerusalém, se dirigindo para a antiga casa, totalmente desapontados e abatidos. Eles haviam nutrido expectativas muito fervorosas, centradas no Messias, e criam que O haviam encontrado em Jesus. Para eles, Jesus Nazareno foi “Varão profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo”; e nesse ponto evidentemente a fé deles parou. Eles ainda não percebiam n’Ele o Filho de Deus que não podia ser retido pela morte, e assim para eles Sua morte foi o triste fim de Sua história. Eles pensaram que “fosse Ele o que remisse Israel”, mas então, para eles, significava redimi-los pelo poder de todos os seus inimigos nacionais, em vez de redimi-los a Deus pelo Seu sangue. Sua morte destruiu suas esperanças de redenção pelo poder e pela glória. Essa decepção foi o fruto de terem nutrido expectativas que não eram garantidas pela Palavra de Deus. Eles esperavam a glória sem os sofrimentos.
Não poucos crentes podem ser encontrados hoje que se afastaram para o mundo de maneira bastante semelhante. Eles também se afastaram porque ficaram desapontados, e estão desapontados por causa que abraçaram expectativas sem garantias. As expectativas podem ter sido centradas no trabalho Cristão e nas conquistas do evangelho, ou em algum grupo particular ou corpo de crentes com os quais eles estavam ligados, ou talvez em si mesmos e em sua própria santidade e poder pessoal. No entanto, as coisas não aconteceram como esperavam, e estão nas profundezas do desânimo.
Este caso de Cléofas ajudará no diagnóstico dos problemas deles. Em primeiro lugar, como ele, eles têm um pouco de “Israel”, que absorve seus pensamentos. Se Israel tivesse sido redimido, como Cléofas esperava, ele estaria no sétimo céu de deleite. Como não tinha sido assim, ele perdera seu entusiasmo e interesse. Ele teve que aprender que, embora Israel estivesse bem no centro da pequena brilhante cena que sua fantasia havia concebido, não estava no centro da cena de Deus. A cena de Deus é a verdadeira, e seu centro é Cristo ressuscitado dos mortos. Quando Jesus Se juntou a eles, atraiu seus pensamentos e conquistou sua confiança, Ele Se abriu para eles, não para as coisas concernentes a Israel, mas para “o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras”. Uma cura infalível para o desapontamento é ter Cristo preenchendo todas as cenas que nossa mente abriga – não a obra, nem mesmo a obra Cristã, nem irmãos, nem mesmo a assembleia, nem o eu em nenhuma de suas muitas formas, mas Cristo.
Mas havia uma segunda coisa. É verdade que essas esperanças não garantidas de Cléofas, que levaram à sua decepção, resultaram de pensar muito em Israel e pouco em Cristo; contudo, essa ênfase errada foi o resultado de sua leitura parcial das Escrituras do Velho Testamento. O versículo 25 mostra que a insensatez e a lentidão de seus corações os haviam levado a negligenciar algumas partes das Escrituras. Eles criam em algumas coisas que os profetas haviam falado – aquelas coisas bonitas, simples, fáceis de serem entendidas quanto à glória do Messias – enquanto colocavam de lado e passavam por cima das previsões de Seus sofrimentos, que sem dúvida pareciam ser para eles misteriosas, peculiares e difíceis de entender. As exatas coisas que haviam evitado eram precisamente o que os livraria da dolorosa experiência pela qual passavam.
Ao falar com eles, três vezes o Senhor enfatizou a importância de toda a Escritura – veja os versículos 25 e 27. Ele então tratou com eles a ponto de fazê-los ver que Sua morte e ressurreição foram a base indicada de toda a glória que ainda está por vir. “Não convinha que o Cristo padecesse essas... ?” Sim, na verdade convinha! E assim como convinha, Ele assim o fez!
Que caminhada deve ter sido essa! No final dela, eles não puderam suportar a ideia de uma separação deste inesperado “Estranho”, e O constrangeram a que permanecesse com eles. Entrando para ficar com eles, Ele necessariamente tomou o lugar que é intrinsecamente Seu. Ele deve ser o Anfitrião, e Líder e também o Abençoador; e então seus olhos foram abertos e eles O reconheceram. Que gozo para seus corações quando de repente eles discerniram seu Senhor ressuscitado!
Mas por que Ele Se afastou da vista deles assim que O reconheceram? Pela mesma razão, sem dúvida, como Ele havia dito no mesmo dia a Maria para não tocá-Lo (ver João 20:17). Ele desejava mostrar desde o início que Ele havia entrado em novas condições pela ressurreição e que, consequentemente, suas relações com Ele deveriam estar em uma nova base. O breve vislumbre que tiveram d’Ele, porém, juntamente com o Seu desdobramento de todas as Escrituras proféticas, havia feito o seu trabalho. Eles foram completamente revolucionados. Uma nova luz havia surgido; novas esperanças haviam surgido em seus corações; o desconsolado afastamento terminara. Embora a noite tivesse caído, eles voltaram a Jerusalém para buscar a comunhão com seus companheiros discípulos. Aflitos de coração, eles tinham procurado solidão: fé e esperança sendo revividas, a companhia dos santos era o deleite deles. É sempre assim com todos nós.
De volta eles vieram contar suas grandes notícias aos onze, mas ao chegaram eles é que foram informados. Os onze sabiam que o Senhor ressuscitara, pois também aparecera a Pedro. As provas de Sua ressurreição estavam rapidamente se acumulando. Eles agora tinham não apenas o testemunho dos anjos, e a lembrança de Suas próprias palavras, e o relato dado pelas mulheres, mas também o testemunho de Simão, quase instantaneamente corroborado pelo testemunho dos dois retornados de Emaús. E o melhor de tudo, enquanto os dois estavam contando sua história, no meio deles, com palavras de paz em Seus lábios, Se apresentou o mesmo Jesus.
No entanto, mesmo assim, eles não estavam totalmente convencidos. Havia n’Ele, em Sua nova condição ressuscitada, algo incomum que ultrapassava o entendimento deles. Eles estavam atemorizados, achando que viram algum espírito. A verdade é que eles viram seu Salvador em um corpo espiritual, conforme fala em 1 Coríntios 15:44. Ele passou a demonstrar este fato a eles de maneira muito convincente. O Seu corpo era de “carne e ossos”. Embora as condições fossem novas, deveria ser identificado com o corpo de “carne e sangue”, no qual Ele havia sofrido, pois as marcas do sofrimento estavam ali em ambas as mãos e pés. E enquanto a verdade estava lentamente surgindo em suas mentes, Ele a tornou ainda mais evidente ao comer diante deles, para que pudessem ver que Ele não era meramente “um espírito”. Assim, a realidade de Sua ressurreição foi totalmente certificada, e o verdadeiro caráter de Seu corpo ressuscitado se manifestou.
Então começou a instruí-los, e em primeiro lugar enfatizou lhes o que já havia enfatizado com ênfase tripla para os dois em Emaús, que TODAS as coisas escritas a respeito d’Ele nas Escrituras tinham que ser cumpridas, como de fato Ele lhes havia dito antes de Sua morte. Eles deveriam entender que tudo o que aconteceu havia acontecido de acordo com as Escrituras, e não era de forma alguma uma contradição do que havia sido escrito. Então, em segundo lugar, Ele abriu seus entendimentos para que pudessem realmente absorver tudo o que lhes havia sido aberto nas Escrituras. Isto, pensamos, deve ser identificado com aquele sopro de Sua vida ressuscitada, que está registrado em João 20:22. Esta nova vida no poder do Espírito trouxe consigo um novo entendimento.
Então, em terceiro lugar, Ele indicou que, tendo esse novo entendimento, e sendo “testemunhas dessas coisas” (ARA), uma nova comissão lhes seria confiada. Eles não mais deveriam falar de lei, mas que “em Seu nome pregasse o arrependimento e remissão dos pecados”. A graça deveria ser seu tema – o perdão dos pecados por meio do Nome e da virtude de Outro – e a única necessidade por parte do homem é o arrependimento – essa honestidade de coração que leva o homem a assumir seu verdadeiro lugar como pecador diante de Deus. Esta pregação da graça deve ser “em todas as nações”, e não confinada apenas aos judeus, como foi a lei. No entanto, deveria começar em Jerusalém, pois naquela cidade a iniquidade do homem havia atingido seu clímax na crucificação do Salvador; e onde o pecado havia abundado, ali a superabundância da graça era para ser manifestada.
A base, sobre a qual repousa esta comissão de graça, é vista no versículo 46 – a morte e ressurreição de Cristo. Tudo o que acabara de acontecer, que parecera tão estranho e uma pedra de tropeço para os discípulos, era o estabelecimento do fundamento necessário, sobre o qual a superestrutura da graça deveria ser erigida. E tudo estava de acordo com as Escrituras, como Ele enfatizou novamente, dizendo: “Assim está escrito”. A Palavra de Deus comunicou uma autoridade divina a tudo o que havia acontecido e à mensagem da graça que eles deveriam proclamar.
Assim, nos versículos 46 e 47, temos o Senhor inaugurando o presente evangelho da graça, e nos dando sua autoridade, sua base, seus termos, o alcance que ele abrange e as profundezas do pecado e necessidade às quais ele desce.
O versículo 49 nos dá uma quarta coisa, e de modo algum de menor importância – o dom vindouro do Espírito Santo, como o poder de tudo o que é contemplado. As Escrituras foram abertas, seus entendimentos também foram abertos, a nova comissão da graça havia sido claramente dada; mas todos deveriam esperar até que possuíssem o único poder no qual eles poderiam agir, ou usar corretamente o que agora eles sabiam. Lucas encerra o seu evangelho, deixando tudo, se assim podemos dizer, como um fogo bem preparado, esperando que o fósforo seja riscado, o que produzirá uma chama vívida. Ele inicia sua sequência, os Atos, mostrando-nos como a vinda do Espírito riscou o fósforo e acendeu o fogo com resultados maravilhosos.
Acabamos de ver como este evangelho termina com o lançamento do evangelho da graça, que está em flagrante contraste com a maneira pela qual, em seus versículos iniciais, traz diante de nós o serviço do templo em funcionamento, de acordo com a lei de Moisés. Os quatro versículos que encerram este evangelho também nos apresentam um contraste marcante, pois o primeiro capítulo nos dá uma imagem de pessoas piedosas com esperanças terrenas, esperando pelo Messias que visitaria e redimiria Seu povo. Ele nos mostra um sacerdote temente a Deus, envolvido em seus deveres do templo, mas que possuía apenas uma pequena fé, de modo que ele foi atingido pela mudez. Não crendo, ele não podia falar: ele não sabia de nada que valesse a pena falar, em todos os eventos do momento. Os versículos 50-53 mostram-nos o ressurreto Salvador subindo para exercer Seu serviço como Sumo Sacerdote nos céus e deixando para trás uma companhia de pessoas cujos corações foram transportados da Terra para o céu e cujas bocas estão abertas em louvor.
Betânia era o local de onde Ele subiu; o lugar onde, mais do que qualquer outro, Ele fora apreciado. Ele subiu no próprio ato de abençoar Seus discípulos. Quando nos lembramos do que eles provaram ser, isso é realmente tocante. Seis semanas antes, todos O abandonaram e fugiram. Um deles O negou com juramentos e maldições, e a todos eles Ele poderia ter dito o que disse aos dois no caminho de Emaús: “Ó néscios, e tardos de coração para crer”. Contudo, sobre esses discípulos tolos, infiéis e covardes, Ele ergueu Suas mãos em bênção. E sobre nós também, embora muito semelhantes a esses homens, apesar de vivermos no dia em que o Espírito é dado, Sua bênção ainda desce.
Ele os abençoou e eles O adoraram. Eles retornaram ao local que Ele designou para eles até que o Espírito viesse, e no templo eles estavam continuamente ocupados no louvor de Deus. Zacarias tinha ficado mudo; nenhuma bendição poderia sair de seus lábios, seja para Deus ou para o homem. Jesus subiu ao alto para assumir o Seu ofício sacerdotal na plenitude da bênção para o Seu povo; e Ele deixou para trás aqueles que provaram ser o núcleo da nova raça sacerdotal, e eles já estavam bendizendo a Deus e adorando-O.
Este evangelho realmente nos levou da lei para a graça e da Terra para o céu.

LUCAS 23

LUCAS 23




Então, na segunda parte do Seu julgamento, O levaram a Pilatos para obterem a sanção romana para a execução desta sentença. Aqui eles mudaram completamente de terreno e O acusaram de ser reacionário e rival de César. Jesus confessou ser o Rei dos judeus, mas Pilatos declarou que Ele não tinha culpa alguma. Isso pode parecer uma declaração surpreendente, mas Marcos nos dá uma visão do que acontecia nos bastidores quando nos conta que Pilatos sabia que o ódio feroz dos líderes religiosos era inspirado pela inveja. Por isso, ele começou a recusar a ser a ferramenta de seu rancor, e se aproveitou da ligação do Senhor com a Galileia para enviá-Lo a Herodes. A acusação, “Ele alvoroça o povo” (ARA), era de fato verdadeira; mas Ele os incitava a Deus e não contra César.
Então, terceiro, houve a breve aparição do Senhor diante de Herodes, que estava ansioso para vê-Lo, esperando testemunhar algo sensacional. Aqui novamente os principais sacerdotes e escribas O acusavam veementemente, mas na presença daquele homem perverso, a quem Ele havia anteriormente caracterizado como “essa raposa”, Jesus não respondeu nada. Seu silêncio cheio de dignidade só levou Herodes e seus soldados a abandonarem toda a pretensão de administrar a justiça e desceram ao escárnio e à ridicularização. Na Sua humilhação foi tirado o Seu julgamento.
Por isso Herodes devolveu-O a Pilatos, e aqui começou a quarta e última etapa de Seu julgamento. Mas antes de nos contar sobre os esforços adicionais de Pilatos para aplacar os acusadores e libertar Jesus, Lucas registra como ele e Herodes deram um fim à inimizade que tinham entre si ao condená-Lo naquele dia. A mesma tragédia tem sido repetida desde então. Homens de caráter e visão completamente diferentes encontraram um ponto de unidade em sua rejeição a Cristo. Herodes foi entregue aos seus prazeres e era completamente indiferente: Pilatos, embora possuísse algum senso do que era correto, era um oportunista e, portanto, pronto para fazer o que era errado em prol da popularidade; mas eles chegaram a um consenso aqui.
A história das cenas finais do julgamento é dada com brevidade nos versículos 13-26. Nem uma palavra dita por nosso Senhor é registrada: tudo é apresentado como uma questão entre Pilatos e o povo instigado pelos principais sacerdotes; ainda assim, certas coisas se destacam muito claramente. Em primeiro lugar, dá-se abundante testemunho de que Jesus não tinha culpa alguma. Pilatos afirmou isso durante o interrogatório anterior (v. 4), e agora ele repete duas vezes (vs. 14 e 22), e afirma pela quarta vez como sendo o veredicto de Herodes (v. 15). Deus cuidou de que houvesse testemunho abundante e oficial disso.
Então a fúria irracional cega de Seus acusadores é abundantemente manifestada. Eles simplesmente clamaram por Sua morte. Mais uma vez, a escolha que fizeram, como alternativa à Sua libertação, destaca-se com clareza cristalina. Duas vezes nestes versículos Barrabás é identificado com sedição e homicídio; isto é, ele era a personificação viva das duas formas nas quais o mal é tão frequentemente apresentado nas Escrituras – corrupção e violência; ou, em outras palavras, vemos o poder de Satanás operando, tanto como uma serpente assim como um leão que ruge. Por fim, vemos que a condenação de Jesus foi o resultado da fraqueza do juiz, que “entregou Jesus à vontade deles”. Ele representava o autoritário poder de Roma, mas ele abdicou em favor da vontade do povo.
As cenas da crucificação ocupam os versículos 27-49. Ficamos impressionados com o fato de que por todo o acontecimento, nada transcorreu de maneira comum. Tudo era incomum – sobrenatural, ou chegando ao sobrenatural. Era bastante comum as mulheres que faziam lamentações nos lutos aparecerem nessas ocasiões, mas é totalmente incomum que lhes seja dito que chorem por si mesmas, ou que ouçam uma profecia de um castigo vindouro. O próprio Jesus era o “madeiro verde”, de acordo com o Salmo 1, e talvez Ele estivesse Se referindo à parábola de Ezequiel 20:45-49. Nessa escritura, Deus prediz um fogo sobre cada árvore verde e cada árvore seca. O julgamento caiu sobre o “madeiro verde” quando Cristo sofreu por nossa causa. Quando o fogo irromper na árvore seca dos judeus apóstatas, não se apagará.
Então a oração de Jesus enquanto eles O crucificavam era totalmente inesperada e incomum. Ele desejava que o Pai, com efeito, não considerasse o pecado do povo como um homicídio voluntarioso, para o qual não havia perdão, mas como homicídio não intencional, para que ainda pudesse haver uma cidade de refúgio, mesmo para Seus homicidas. Uma resposta a essa oração foi vista cerca de cinquenta dias depois, quando Pedro em Jerusalém pregou a salvação por meio do Cristo ressurreto, e 3.000 almas correram para o refúgio. A oração era incomum porque era o fruto de compaixões divinas tais como nunca havia sido revelado antes.
As ações das várias pessoas envolvidas em Sua crucificação eram incomuns. Os homens não costumam provocar e insultar até mesmo os piores criminosos que estão sofrendo pena de morte. Aqui todas as classes o fizeram, até mesmo príncipes, soldados e um dos malfeitores que sofreu ao Seu lado. O poder do diabo e das trevas tomou conta de suas mentes.
A inscrição de Pilatos foi inesperada. Tendo O condenado como um falso pretendente à realeza entre os judeus, ele escreveu um título proclamando-O como o Rei dos judeus e, como mostra outro evangelho, ele se recusou a alterá-lo. Isto era Deus prevalecendo sobre tudo.
A conversão repentina do outro ladrão era totalmente sobrenatural. Ele condenou a si mesmo e justificou a Jesus. Tendo justificado a Ele, ele O reconheceu como Senhor e proclamou – praticamente, embora não em tantas palavras – sua crença de que Deus O ressuscitaria dos mortos, a fim de estabelecê-Lo em Seu reino. Ele cumpriu as duas condições de Romanos 10:9, simplesmente crendo que Deus O ressuscitaria dos mortos, ao invés de crer, como nós, que Deus O ressuscitou dos mortos. A fé do ladrão que estava morrendo era uma pedra preciosa de primeira ordem, ao lado da qual a nossa fé hoje perde seu brilho. É muito mais notável crer que algo deve ser feito, quando ainda não tenha sido feito, do que crer que algo está feito, quando ele já foi feito. E, além disso, era muito incomum que um malfeitor quisesse ser lembrado pelo Rei, quando o Seu reino fosse estabelecido. Os malfeitores costumam fugir para as sombras e desejam ser esquecidos pelas autoridades. Seu desejo de ser lembrado mostra sua fé na graça do Senhor sofredor igualmente sua fé em Sua glória vindoura.
A resposta de Jesus à oração do ladrão foi realmente maravilhosa e inesperada! Não apenas no reino vindouro, mas naquele mesmo dia, ele experimentaria a graça que alcançava além da morte, colocando seu espírito resgatado em companhia de Cristo no paraíso. Ora, o paraíso e o terceiro céu são equiparados em 2 Coríntios 12:2-4. Essas palavras do Senhor foram a primeira revelação definida do fato de que, imediatamente após a morte, os espíritos dos santos estão em consciente bem-aventurança com Cristo.
Se tudo era incomum, no lado humano, quando Jesus morreu, havia também manifestações sobrenaturais vindas da mão de Deus, das quais falam os versículos 44 e 45. As três horas mais brilhantes do dia foram escurecidas, pelo Sol sendo velado. Havia algo muito apropriado nisso, pois o verdadeiro “Sol da Justiça” estava levando nosso pecado naquele momento. Também o véu do templo foi rasgado por uma mão divina, significando que o dia do sistema do templo visível tinha acabado, e o caminho para o Santo dos santos estava a ponto de se manifestar – veja Hebreus 9:8. Nosso verdadeiro “Sol” foi velado por um momento, suportando nosso julgamento, para que não houvesse nenhum véu entre nós e Deus.
Lucas não registra o clamor do Salvador quanto ao abandono divino, proferido sobre o tempo em que as trevas passavam, nem o grito triunfante: “Está consumado”, embora ele registre que Ele “clamou em alta voz” (ARA). E então Suas palavras finais foram: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Nestas palavras finais na cruz, vemos aqu’Ele que, desde o princípio, foi marcado pela oração e submissão à vontade de Deus, concluindo Seu caminho como o Homem perfeito e dependente. Tendo dito isto, Ele entregou o Seu espírito; ainda assim, vemos que Ele é mais do que Homem, pois em um momento havia a voz alta, Seu vigor intacto e no momento seguinte Ele estava morto. Em todos os sentidos, Sua morte foi sobrenatural.
Testemunho disso foi prestado pelo centurião que testemunhou a cena em razão de seu dever oficial. Mesmo as multidões atraídas pela curiosidade mórbida foram tomadas por um alarmante temor e pressentimento, e aqueles que eram Seus amigos recuaram-se à distância. O centurião tornou-se uma quarta testemunha da perfeição de Jesus, unindo-se a Pilatos, Herodes e ao ladrão moribundo.
Os escritos proféticos haviam dito: “Afastaste para longe de Mim amigos e companheiros” (Sl 88:18), mas eles também disseram: “Designaram-Lhe a sepultura ... mas com o rico esteve na Sua morte” (Is 53:9 – ARA). Se o versículo 49 nos dá o cumprimento de um, os versículos 50-53 nos dão o cumprimento do outro. Em toda emergência Deus tem em reserva um instrumento para realizar Seu propósito e cumprir Sua palavra. José é mencionado em todos os quatro evangelhos, e João nos informa que até esse ponto ele havia sido um discípulo em oculto por medo dos judeus. Agora ele age com ousadia quando todos os outros se acovardaram, e o novo túmulo imaculado está disponível para o corpo sagrado do Senhor. Nem mesmo pelo mais mínimo contato Ele “viu a corrupção”. Os homens pretendiam o contrário, mas Deus cumpriu serenamente a Sua palavra.

LUCAS 22

LUCAS 22



Quando começamos a ler este capítulo, chegamos às cenas finais da vida de nosso Senhor. A Páscoa não foi apenas uma testemunha permanente da libertação de Israel do Egito, mas também uma figura do grande Sacrifício que ainda estava por vir. Agora, finalmente, o clímax se aproximava, e “Cristo, nossa Páscoa” deveria ser sacrificado por nós precisamente na época da Páscoa. Os líderes religiosos estavam planejando como poderiam matá-Lo, apesar do fato de que muitos do povo O viam com favor. Satanás inspirou o ódio deles, e foi ele quem apresentou a eles uma ferramenta para realizar seus desejos.
João, no seu evangelho, desmascara Judas para nós antes que o fim seja alcançado. Em seu décimo segundo capítulo, ele nos diz que, consumido pela cobiça, ele se tornou um ladrão. João também nos diz em seu décimo terceiro capítulo o momento exato em que Satanás entrou em Judas. Lucas relata esse fato terrível de uma maneira mais geral; e mostra que o príncipe dos poderes das trevas considerou que executar a morte de Cristo era uma tarefa de tal importância que não deveria ser delegada a um poder menor: ele próprio se encarregaria do assunto. No entanto, ele empreendeu a tarefa para sua própria derrota. O pacto entre Judas e os líderes religiosos foi facilmente estabelecido. Eles foram consumidos pela inveja e Judas pelo amor ao dinheiro.
Durante muitos séculos a Páscoa foi observada com maior ou menor fidelidade, e agora, em seu pleno significado, era observada pela última vez. Em vinte e quatro horas, a luz da Páscoa empalideceu diante do brilho daqu’Ele a Quem ela representava, quando o verdadeiro Cordeiro de Deus morreu na cruz. É um fato notável que a última vez em que foi celebrada em seu pleno significado, estava presente para participar dela aqu’Ele que a instituiu – o Homem Perfeito e Santo, que era o Companheiro de Jeová. Ele ordenou que a Páscoa fosse preparada, e Ele decidiu o exato lugar onde deviam comê-la. O tempo, a maneira, o lugar, eram todos da Sua designação. A escolha não está com os discípulos, mas com Ele, como mostra o versículo 9.
A presciência do Senhor é notavelmente manifestada no versículo 10. Levar a água era tarefa das mulheres; um homem carregando um cântaro de água era uma visão muito incomum. No entanto, Ele sabia que haveria um homem realizando esse ato incomum e que Pedro e João o encontrariam quando entrassem na cidade. Ele sabia também que o “dono da casa” (ARA) responderia à mensagem enviada pelos discípulos em nome do “Mestre”. Sem dúvida, ele reconhecia o Mestre como sendo seu Mestre; em outras palavras, ele era um dos piedosos em Jerusalém que reconhecia Suas reivindicações, e o Senhor sabia como colocar Sua mão sobre ele. Este homem teve o privilégio de mobiliar um aposento para o uso daqu’Ele que não tinha aposento próprio, e quando a hora chegou, assentou-Se com Seus discípulos.
No relato que Lucas faz, a distinção entre a ceia pascal e a ceia que Ele instituiu é muito clara; os versículos 15-18 falam de uma e os versículos 19-20 de outra. As palavras do Senhor quanto à Páscoa indicam o encerramento daquela velha ordem de coisas. Seus sofrimentos significariam o seu cumprimento, e quando um remanescente poupado de Israel entra finalmente na bem-aventurança do Milênio, será como protegido pelo sangue de Cristo. Quanto ao cálice (v. 17), isso não parece ter sido parte da Páscoa instituída por meio de Moisés, e o Senhor aparentemente não bebeu dele. Em vez disso, Ele indicou que Seu dia de regozijo, simbolizado pelo fruto da videira, só seria alcançado no reino vindouro.
Então instituiu a Sua própria ceia em memória de Sua morte; o pão simbolizando Seu corpo, o cálice de vinho, Seu sangue derramado. O relato é muito breve e, para o significado completo de tudo isso, temos que ir a 1 Coríntios 10 e 11. Recordação foi o que o Senhor enfatizou no momento, e em vista de Sua longa ausência, podemos ver a importância disso. Através dos séculos, o memorial de Sua morte esteve conosco e o testemunho permanente de Seu amor.
Os versículos que se seguem (vs. 21-27) testemunham a loucura e a fraqueza que se encontravam entre os discípulos. A mão do traidor estava sobre a mesa, e Ele sabia disso, embora o resto dos discípulos não o percebesse. Havia também conflitos entre eles, cada um desejando o lugar mais importante, e isso exatamente quando seu grande Mestre estava prestes a tomar o lugar mais baixo. Tal é, infelizmente, o coração do homem, até mesmo dos santos. No entanto, serviu para destacar muito claramente a diferença fundamental entre o discípulo e o mundo. A grandeza mundana é expressa e mantida tomando-se um lugar de senhor: a grandeza Cristã é encontrada ao tomar o lugar de servo. Nessa grandeza, o próprio Jesus era preeminente. Poucas palavras são mais tocantes do que isso – “Eu porém, entre vós Sou como aqu’Ele que serve”. Essa tinha sido Sua vida de perfeita graça; e dessa forma, em suprema medida, Sua morte estava prestes a acontecer.
Também é muito tocante observar como Ele falou aos discípulos nos versículos 28-30. Eles eram de fato insensatos, e seu espírito se distanciava muito do d’Ele; mesmo assim, com que benevolência que Ele trouxe à luz o bom traço que os caracterizara. Eles estavam firmemente ligados a Ele. Apesar de suas tentações, culminando em Sua rejeição, eles continuaram com Ele. Isso Ele nunca esqueceria, e haveria uma recompensa abundante no reino. No dia vindouro Ele vai tomar o reino para Seu Pai, e o toma por seus santos, e estes Seus discípulos terão um lugar muito especial de proeminência. À luz desse gracioso pronunciamento, eles certamente devem ter percebido quão mesquinhas e repugnantes haviam sido suas disputas anteriores por uma posição de destaque. E, talvez possamos sentir o mesmo.
Em seguida, nos versículos 31-34, vem a advertência especial do Senhor a Pedro. Neste momento ele estava pensando e agindo na carne, então Jesus usou seu nome de acordo com a carne, e ao falar seu nome repetidamente transmitiu a gravidade de Sua advertência. A confiança própria marcava Pedro, assim como o desejo de preeminência, e isso abriu a porta a Satanás; contudo, a intercessão do Senhor prevaleceria, e havia trigo ali e não apenas palha. Este trigo permaneceria quando a peneiração terminasse.
Os quatro versículos que se seguem, 35-38, foram dirigidos a todos os discípulos. Eles tinham que testemunhar que possuíam uma suficiência absoluta como fruto de Seu poder, embora enviados sem recursos humanos; e Ele notificou que com Sua morte e partida outra ordem de coisas sobreviria. Os homens O contariam entre os transgressores deste mundo, mas as coisas concernentes a Ele se cumpririam em outro mundo. Ele seria exaltado à glória, e Seus discípulos foram deixados como Suas testemunhas, tendo que retomar as circunstâncias cotidianas deste mundo. Sua resposta a essas palavras mostrou que provavelmente estavam perdendo o espírito do que Ele disse, agarrando-se a um detalhe literal; então, por enquanto, Ele deixou isso de lado.
Até agora tem sido o trato de Seu amor com os Seus; agora vemos a perfeição de Sua Humanidade manifestada no Getsêmani. Ele enfrentou, como diante do Pai, toda a amargura daquele cálice de juízo que Ele tinha de beber, e Sua total perfeição é vista pelo fato de que, embora tendo Se retraído dele, devotou-Se ao cumprimento da vontade do Pai, o que quer que isso Lhe custasse. Lucas, distinto dos outros evangelistas, nos fala da aparição do anjo para fortalecê-Lo. Isso enfatiza a realidade da Sua Humanidade, de acordo com o caráter especial deste evangelho. Assim também o Seu suor, sendo como grandes gotas de sangue, é mencionado apenas neste evangelho. O horror daquilo que estava diante d’Ele foi experimentado em comunhão com o Pai.
Com o versículo 47 as últimas cenas começam; e agora tudo é calma e graça com o Senhor: tudo é confusão e agitação com Seus amigos, os Seus adversários, e até com os Seus juízes. A comunhão no jardim levou à calma na hora da grande provação. Judas alcançou as alturas da hipocrisia ao trair seu Mestre com um beijo. Pedro usou uma daquelas duas espadas a que eles acabaram de se referir, em violência imprudente e incontrolada. O que Pedro fez em sua violência o Senhor prontamente desfez em Sua graça. A violência deveria ser deixada para a multidão com as espadas e varapaus. Era a hora deles e a hora em que o poder das trevas deveria ser exibido. Nesse sombrio cenário, o Senhor mostrou Sua graça.
O relato da queda de Pedro segue. O caminho para isso fora preparado por seu desejo anterior pelo primeiro lugar, sua confiança própria e sua ação violenta. Agora ele seguia de longe, e logo se achou entre os inimigos de seu Mestre. Satanás estabeleceu a armadilha com plena habilidade. Primeiro a criada e depois os outros dois empregados pressionaram sua identificação com Ele, levando-o a negações que aumentavam em ênfase; embora Lucas não nos diga que ele tenha praguejado e jurado. Isso afinal era incidental; o essencial era que ele negou seu Senhor.
Precisamente naquele momento, exatamente como Jesus havia previsto, o galo cantou; e então o Senhor Se virou e olhou para Pedro. Podemos não saber exatamente o que esse olhar transmitiu, mas isso falou com tal intensidade ao discípulo caído que ele saiu de entre os inimigos de seu Mestre com lágrimas amargas. Judas estava cheio de remorso, mas não lemos que ele chorou. O choro amargo de Pedro foi uma testemunha de que, afinal, ele amava seu Senhor e que sua fé não iria falhar. A oração e o olhar estavam começando a provar sua eficácia.
Este evangelho deixa claro que o julgamento de Jesus foi dividido em quatro partes. Primeiro, houve o exame perante os principais sacerdotes e escribas, enquanto procuravam algum pretexto plausível para condená-Lo à morte. Esse relato preenche os versículos finais do capítulo, e é feito com brevidade. É muito claro, no entanto, que eles O condenaram por Sua própria confissão clara de Quem Ele era. Eles O desafiaram a ser o Cristo, e a resposta do Senhor mostrou que Ele sabia que eles estavam firmes em sua incredulidade e em sua determinação de condená-Lo. Ainda assim, Ele afirmou ser o Filho do Homem, que deveria empunhar o próprio poder de Deus, e isso eles interpretaram como significando que Ele também deveria afirmar ser o Filho de Deus. De fato, Ele era, e Sua resposta, “Vós dizeis que Eu Sou”, foi um enfático “sim”. Ao afirmar ser Ele o Cristo, o Filho do Homem, o Filho de Deus, eles O condenaram à morte,

sexta-feira, 5 de julho de 2019

LUCAS 21

LUCAS 21




Então Ele ergueu os olhos, e eis alguns desses homens ricos lançando ostensivamente seu dinheiro para o tesouro do templo, e entre eles veio uma pobre viúva que lançou suas duas moedas. Não devemos permitir que a divisão dos capítulos separe em nossa mente esses versículos iniciais dos últimos dois de Lucas 20. A viúva era presumivelmente uma daquelas cuja “casa” havia sido devorada, mas em vez de se lamentar, ela lançou suas últimas duas moedas no tesouro do templo. Sob essas circunstâncias, sua oferta foi realmente grande, e o Senhor declarou ser assim. Ela foi ao limite máximo; lançando no tesouro toda sua posse.
Nem devemos dissociar desse tocante incidente os versículos que se seguem, particularmente no versículo 6. A viúva expressou sua devoção a Deus ao lançar suas duas moedas na coleta para a manutenção da estrutura do templo; ainda assim o Senhor prossegue predizendo a destruição total do templo. Já tinha sido substituído pela presença do Senhor. Deus estava em Cristo, não no templo de Herodes. Em seu entendimento a viúva estava, como poderíamos dizer, desatualizada; no entanto, isso não manchou a aprovação do Senhor de sua oferta. Ele realmente aprecia devoção de todo o coração, mesmo que sua expressão não seja marcada por plena inteligência. Isso deve ser um grande conforto para nós.
Lucas agora nos dá o discurso profético do Senhor, registrando a parte em que especialmente respondeu à pergunta dos discípulos, conforme registrado no versículo 7. Como o relato de Mateus mostra, tanto a pergunta deles quanto a resposta do Senhor continham muito mais do que aquilo que Lucas registra. Aqui a questão é quanto ao tempo da derrubada do templo e o sinal disso. A resposta divide-se em duas partes: os versículos 8-24 falam de eventos que levaram à destruição e derrubada de Jerusalém pelos romanos; versículos 25-33, falam da Aparição do Filho do Homem no final dos tempos.
É muito perceptível como o Senhor apresenta toda a questão, não como uma massa de detalhes, apelando à nossa curiosidade, mas como previsões que soam uma nota de advertência, e transmitem instruções de suma importância para Seus discípulos. Tudo é declarado de maneira a atrair nossa consciência e não nossa curiosidade.
A primeira parte do discurso, versículos 8-19, está ocupada com instruções muito pessoais aos discípulos. O Senhor de fato faz as seguintes previsões:
1) O surgimento de falsos Cristos,
2) Guerras e tumultos, juntamente com acontecimentos anormais no mundo físico ao redor,
3) A chegada de amarga oposição e perseguição, até a morte.

Mas em cada caso, Seus discípulos devem ser prevenidos por Seus avisos. Eles não são, nem por um momento, para serem enganados por falsos Cristos, ou segui-los. Eles não devem ter medo dos movimentos violentos dos homens, nem imaginar que essas convulsões signifiquem que o fim está vindo imediatamente – pois este é o que “logo” significa aqui (v. 9). Eles devem aceitar a perseguição como uma oportunidade para testemunho e, ao testificar, não devem confiar em uma defesa preparada, mas na sabedoria sobrenatural a ser concedida a eles quando o momento chegar.
O versículo 18 é evidentemente destinado a transmitir o modo pessoal e íntimo em que Deus cuidaria deles. As palavras finais do versículo 16 mostram que isso não significa que todos eles escapariam; mas, mesmo que a morte os levasse, tudo seria restaurado na ressurreição. Pela paciente perseverança eles vencem, seja na vida ou na morte. Este parece ser o significado do versículo 19. Podemos ver no livro dos Atos como essas coisas foram cumpridas nos apóstolos.
Então, nos versículos 20-24, Ele prediz a desolação de Jerusalém. Nenhuma palavra aparece aqui sobre o estabelecimento da “abominação da desolação”, pois isso é apenas para acontecer no fim dos tempos dos gentios: todas as coisas que o Senhor especifica foram cumpridas quando Jerusalém foi destruída pelos romanos. Então a cidade estava cercada de exércitos. Então aqueles que acreditaram nas palavras de Jesus fugiram para as montanhas e assim escaparam dos horrores do cerco. Então ali começaram os “dias de vingança” para o judeu, que não cessará para eles até que tudo o que está previsto seja cumprido. Então começou o longo cativeiro que persistiu, e persistirá, com Jerusalém sob os pés das nações, até que os tempos dos gentios terminem. Aqueles tempos começaram quando Deus levantou Nabucodonosor, que desapossou a última linhagem do rei de Davi, e eles terminarão pelo esmagamento do domínio gentio na Aparição de Cristo.
Consequentemente, o versículo 25 nos leva diretamente ao tempo do fim, e fala de coisas que precederão Seu advento. Haverá sinais nas regiões celestiais e na Terra, angústia e perplexidade; “mar e ondas” sendo expressões figurativas das massas da humanidade em um estado de violenta inquietação e agitação. Como resultado, os homens estarão “prontos para morrer pelo medo e expectativa do que está por vir” (JND). Em vista do estado de coisas que prevalece na Terra, como escrevemos, não é difícil conceber a condição das coisas que o Senhor prediz.
Este é o momento em que Deus vai abalar os céus e a Terra, como predisse Ageu; e quando somente as coisas que não podem ser abaladas permanecerão. Tudo levará à pública Aparição do Filho do Homem em poder e grande glória. O dia da Sua pobreza acabará, assim como o dia da Sua paciência; e o dia do Seu poder, do qual fala o Salmo 110, terá chegado plenamente. Antes de Sua vinda, os corações dos homens não convertidos se encherão de medo: quando Ele vier, seus piores temores serão concretizados, e “todas as tribos da Terra se lamentarão por causa d’Ele” (Ap 1:7 – JND).
Mas para os Seus santos, Sua vinda terá outro aspecto, como o versículo 28 manifesta alegremente. Para eles, significa uma redenção final, quando toda a criação será libertada da escravidão da corrupção. Sendo assim, os primeiros sinais de Seu advento são para nos encher de uma alegre antecipação. Devemos “olhar para cima”, pois o próximo movimento que realmente conta virá da mão direita de Deus, onde Ele está sentado. Devemos “levantar nossas cabeças”, e não deixá-las deprimidas ou com medo. As mesmas coisas que assustam o mundo são para encher o crente com o otimismo da santa expectativa.
Em seguida vem a curta parábola da figueira. É dita ser “uma parábola”, mas note, não uma mera ilustração. A figueira representa o judeu nacionalmente. Há séculos que ele está morto em nível nacional, e quando finalmente há sinais de reavivamento nacional com eles e sinais de reavivamento também com outras “árvores” de nacionalidades antigas, podemos saber que o “verão” milenar está próximo. Até que esse tempo chegue, não passará “esta geração” – por esse termo o Senhor indicou, cremos, aquela “geração perversa ... em quem não há fidelidade” (TB), da qual Moisés falou em Deuteronômio 32:5, 20. Quando o reino for estabelecido, aquela geração terá desaparecido.
O breve relato de Lucas da profecia do Senhor termina com as solenes palavras em que Ele afirmou a verdade e a confiabilidade de Suas palavras. Cada palavra dos Seus lábios tem algo nela, algo para ser cumprido, e é mais estável que os céus e a Terra. Assim, o versículo 33 fornece o impressionante pensamento de que as palavras de Seus lábios são mais duradouras do que as obras de Suas mãos.
Ele encerra com outro apelo às consciências de Seus discípulos e às nossas também. Sem dúvida, esses três versículos, 34, 35, 36, têm aplicação especial para os santos que estarão na Terra pouco antes de Sua Aparição, mas eles têm uma grande voz para o crente hoje. Uma multiplicidade de prazeres nos rodeia, e podemos facilmente nos sobrecarregar com o excesso deles. Por outro lado, nunca houve mais e maiores perigos no horizonte, e nosso coração pode estar cheio de pressentimentos, de modo a perdemos de vista o dia que está chegando. É muito possível ocupar-se tanto com os feitos dos ditadores e com o progresso dos movimentos mundiais que a vinda do Senhor seja obscurecida em nossas mentes. A palavra para nós é: “Vigiai pois em todo o tempo, orando”. Então estaremos completamente despertos e prontos para saudar o Senhor quando Ele vier.
Nos versículos finais do capítulo, Lucas nos lembra de que Ele, que desse modo previu a Sua vinda novamente, ainda era o Rejeitado. Durante o dia, por toda aquela última semana, Ele diligentemente proferiu a Palavra de Deus: à noite, não tendo lar, Ele permaneceu no Monte das Oliveiras.

LUCAS 20

LUCAS 20




Ainda nos recintos do templo onde o Senhor ensinou diariamente durante a última semana de Sua vida, também não é surpreendente que Ele tenha entrado em conflito com eles. Todo este capítulo está ocupado com detalhes do conflito. Os principais dos sacerdotes e os escribas começaram o conflito e, no final, foram deixados em silêncio e desmascarados.
Eles começaram desafiando Sua autoridade. Eles eram as pessoas com autoridade ali, e para eles Ele era apenas um novo “Profeta” de Nazaré. A pergunta deles supunha que tinham a capacidade de julgar as credenciais do Senhor, se Ele as expusesse; Por isso, Ele os convocou a resolver a questão preliminar quanto às credenciais de Seu precursor, João. Isso imediatamente os colocou em um dilema, pois a resposta que eles desejavam dar teria sido ressentida pelo povo. Eles eram oportunistas buscando popularidade, então alegaram ignorância. Para homens como esses, o Senhor não apresentaria Sua autoridade. Em vez disso, Ele começou a falar com toda a autoridade que a onisciência concede, e logo sentiram o poder dela. Não poderia haver dúvida sobre Sua autoridade quando o conflito verbal cessasse.
Na parábola, que ocupa os versículos 9-16, Ele estabeleceu com grande clareza a posição exata das coisas naquele momento. A parábola é lida como uma continuação das declarações históricas feitas em 2 Crônicas 36:15-16. Lá, em 2 Crônicas, era Deus apelando por meio de “Seus mensageiros, madrugando, e enviando-lhos”; mas todos foram zombados e escarnecidos até “que mais nenhum remédio houve” e “fez subir contra eles o rei dos caldeus”. Aqui em Lucas a história é levada um passo adiante e o “Filho Amado” é enviado, apenas para ser expulso e morto. Daí um castigo pior do que os caldeus viria sobre eles. O salmista havia profetizado que a rejeitada “Pedra” deveria se tornar a Cabeça da esquina, e Jesus acrescentou que todos os que caíssem sobre aquela Pedra, ou sobre quem Ela caísse, seriam destruídos. Eles estavam naquele momento tropeçando na Pedra, como Romanos 9:32 declara. A queda da Pedra sobre eles, e sobre os poderes dos gentios, ocorrerá no Seu segundo Advento, como mostra Daniel 2:34.
Os principais sacerdotes e escribas sentiram o ponto e a autoridade de Suas palavras, como vemos no versículo 19, mas foram apenas estimulados a uma oposição mais determinada; e enviaram homens de astúcia e engano para apanhá-Lo em Suas palavras, se possível. Eles vieram com a questão de pagar tributo a César; e nisso os fariseus e os herodianos se uniram, afundando suas animosidades no ódio comum ao Senhor.
A pergunta do Senhor: “Por que Me tentais?” mostrou que Ele estava completamente ciente de sua astúcia. Seu pedido por um denário (ARA) revela Sua própria pobreza. A inscrição na moeda foi uma testemunha da sujeição deles a César. Sua resposta, assim, foi que eles deviam dar a César seus direitos e a Deus os Seus direitos. Foi porque eles não tinham prestado a Deus as coisas que eram d’Ele que César tinha adquirido os direitos de conquista sobre eles. Tudo isso era tão indubitável, quando apontado, que esses interrogadores astutos foram silenciados.
A questão com a qual os saduceus pensavam em apanhar o Senhor baseava-se na ignorância. Sem dúvida, muitas vezes haviam confundido os fariseus com isso, mas estes não tinham mais luz do que os saduceus no ponto essencial que o Senhor tornara tão claro. Ele contrastou “este mundo” e “o mundo vindouro”, usando realmente a palavra que significa “século” (ou “era”). Ora, será a porção de alguns “alcançar a era vindoura” (ARA) como homens vivos na Terra, sem passar pela morte e ressurreição; mas aqueles que vão “alcançar a era vindoura e a ressurreição entrarão em condições completamente novas de vida. Eles serão imortais como os anjos, e o casamento não terá aplicação para eles. O Senhor estava aqui começando a trazer “à luz a vida e a incorruptibilidade” (2 Tm 1:10 – JND) e, como resultado, a questão dos saduceus, que por sua ignorância parecia tão incontestável, tornou-se simplesmente absurda.
O Senhor prosseguiu para provar a ressurreição em Êxodo 3:6. Se os patriarcas estavam vivos para Deus, séculos depois que eles estavam mortos para este mundo, sua ressurreição final era uma certeza. Assim, Ele respondeu não apenas a tola questão dos saduceus, mas a incredulidade que estava por trás de sua pergunta. E Ele respondeu com tamanha autoridade que até um escriba foi levado a se manifestar em admiração e aprovação, e todos eles temiam fazer mais perguntas.
O Senhor então lhes fez Sua grande pergunta, baseada no Salmo 110. Mateus registra que nenhum homem foi capaz de Lhe responder uma palavra. Nenhuma resposta era possível, exceto para a fé que percebia a glória divina do Cristo, e eles não tinham fé. Eles estavam em silêncio, em teimosa incredulidade. Responder à Sua pergunta eles não puderam; perguntar-Lhe qualquer outra coisa eles não ousaram.
Apenas permaneceu para o Senhor desmascarar esses homens maus, e isso Ele fez em poucas palavras, conforme registrado nos dois versículos que encerram o capítulo. Eles eram hipócritas do tipo mais desesperado, usando a religião como um manto para encobrir seu egoísmo e sua agressiva ganância. Ele os desmascarou e pronunciou sua condenação. Ele não falou de uma mais longa condenação, como se o julgamento fosse delimitado pelo tempo e não eterno. Mas Ele falou de maior condenação, mostrando que o julgamento será diferente quanto à sua gravidade. Eles sofrem um “juízo muito mais severo” (ARA).

LUCAS 19

LUCAS 19




Somente Lucas nos fala sobre a conversão de Zaqueu, que se encaixa de forma tão impressionante com o tema de seu evangelho. O publicano, embora tão desprezado pelos líderes de seu povo, era um objeto adequado para a graça do Senhor, e ele foi marcado pela fé que está pronta para recebê-la. Zaqueu não tinha necessidades físicas ou materiais; Este era um caso de necessidade espiritual apenas. As pessoas colocaram a denominação “pecador” sobre ele. Era uma verdadeira denominação e Zaqueu sabia disso, e isso provocou nele uma tentativa de se justificar relembrando suas benevolências e escrupulosa honestidade. No entanto, Jesus colocou a bênção dele na base apropriada, proclamando-o filho de Abraão – isto é, um verdadeiro filho da fé – e Ele mesmo como sendo o Único a vir buscar e salvar o que se havia perdido. Zaqueu era em si mesmo um homem perdido, mas era um crente, e assim a salvação chegou a ele naquele dia. Exatamente na mesma base chegou a cada um de nós desde aquele dia.
O Senhor mostrou aos fariseus que o reino já estava em seu meio em Sua própria Pessoa; Ele também havia novamente dito a Seus discípulos sobre Sua iminente morte e ressurreição. No entanto, eles ainda nutriam expectativas quanto ao aparecimento imediato do reino em glória. Então o Senhor acrescentou a parábola, dos versículos 11-27, como mais uma correção para esses pensamentos deles. O tempo do reino viria, quando todos os Seus inimigos seriam destruídos; mas primeiro vem um período de Sua ausência, quando a fidelidade e diligência de Seus servos seriam testadas. Para cada servo, a mesma quantia é confiada, de modo que a diferença no resultado surgiu de sua diligência e habilidade, ou de alguma outra forma. De acordo com a diligência de cada um, foram recompensados ​​no dia do reino. O servo, que não fez nada, apenas mostrou que ele não conhecia realmente o seu Senhor. Como resultado, não só não teve recompensa, mas sofreu perda.
Este é outro lembrete de que a graça nos chama para um lugar de responsabilidade e serviço, e que o nosso lugar no reino dependerá da diligência que temos empregado com aquilo que nos foi confiado.
Tendo falado a parábola das minas, o Senhor ia caminhando adiante com Seus discípulos, subindo em direção a Jerusalém, e chegando a Betfagé e Betânia, Ele enviou a buscar o jumentinho, no qual Ele fez Sua entrada na cidade, de acordo com a profecia de Zacarias. O jumentinho era chucro, pois nenhum homem havia se sentado nele e, consequentemente, estava preso sob restrição. Foi solto da contenção, mas apenas para que Ele pudesse sentar-Se sobre ele. Sob a mão poderosa, ele estava perfeitamente contido. Uma parábola disto, de como a graça nos liberta da escravidão da lei.
Embora o reino não era para ser estabelecido em glória neste momento, mesmo assim Ele Se apresentou dessa maneira tão definidamente a Jerusalém como seu legítimo Rei enviado por Deus. Seus discípulos ajudaram nisso e, quando se aproximaram da cidade, começaram a louvar a Deus e a se regozijar. João 12:16 nos diz claramente que naquele momento eles não entendiam realmente o que estavam fazendo, mas é evidente que o Espírito de Deus tomou posse de seus lábios e os guiou em suas palavras. Eles O aclamaram como o Rei, e eles falaram de “paz no céu e glória nas alturas”.
Na encarnação, os anjos haviam celebrado “paz na Terra”, pois o Homem em Quem Deus Se comprazia havia aparecido e celebravam todo o resultado de Sua obra. Mas agora estava claro que a morte estava diante d’Ele e que Sua rejeição implicaria um período de qualquer coisa, menos paz na Terra. No entanto, o primeiro efeito de Sua obra na cruz seria estabelecer a paz na mais alta de todas as Cortes – no céu – e manifestar a glória nas maiores alturas, subindo Ele mesmo até lá em triunfo. Esta nota de louvor teve que ser soada nesta circunstância. Deus poderia ter feito as pedras clamarem, mas ao invés disso Ele usou os lábios dos discípulos, embora eles proferissem palavras sem plena inteligência do seu significado.
Agora vem um contraste impressionante. Ao se aproximarem da cidade, os discípulos se regozijaram e clamaram bendições ao rei. O próprio Rei chorou pela cidade! Em João 11:35, a palavra usada indica lágrimas silenciosas; aqui a palavra usada indica irromper em lamentação, de forma visível e audível. O lamento de Jeová sobre Israel, como registrado no Salmo 81:13, reaparece aqui, apenas grandemente acentuado ao se aproximarem do maior de todos os seus terríveis pecados. Jerusalém não conhecia as coisas que pertenciam à sua paz, por isso a paz na Terra era impossível naquele tempo, e o Senhor previu e predisse sua violenta destruição nas mãos dos romanos, que aconteceu quarenta anos depois. O Oriente do alto visitou-os, e eles não conheciam o tempo de sua visitação.
Como consequência, tudo em Jerusalém estava em desordem. Entrando na cidade, o Senhor foi direto ao seu próprio centro e no templo encontrou o mal estabelecido. A casa de Jeová, destinada a ser uma casa de oração para todas as nações, era apenas um covil de ladrões, de modo que qualquer estranho, chegando lá como alguém que buscava a Deus, era enganado na obtenção dos sacrifícios necessários. Assim, ele seria repelido do verdadeiro Deus, em vez de ser atraído por Ele. Desse modo, nas mãos dos homens, a casa de Deus havia sido totalmente pervertida quanto ao seu uso apropriado. Além disso, os homens que detinham a autoridade na casa eram potencialmente homicidas, como mostra o versículo 47: assim, ela se tornara reduto de homicidas, bem como covis de ladrões. Poderia alguma coisa ser pior do que isso? Não é de se admirar que Deus os tenha varrido pelos romanos quarenta anos depois!