Somente Lucas nos fala sobre a conversão
de Zaqueu, que se encaixa de forma tão impressionante com o tema de seu evangelho.
O publicano, embora tão desprezado pelos líderes de seu povo, era um objeto adequado
para a graça do Senhor, e ele foi marcado pela fé que está pronta para recebê-la.
Zaqueu não tinha necessidades físicas ou materiais; Este era um caso de necessidade
espiritual apenas. As pessoas colocaram a denominação “pecador” sobre ele. Era uma verdadeira denominação e Zaqueu sabia disso,
e isso provocou nele uma tentativa de se justificar relembrando suas benevolências
e escrupulosa honestidade. No entanto, Jesus colocou a bênção dele na base apropriada,
proclamando-o filho de Abraão – isto é, um verdadeiro filho da fé – e Ele mesmo
como sendo o Único a vir buscar e salvar o que se havia perdido. Zaqueu era em si
mesmo um homem perdido, mas era um crente, e assim a salvação chegou a ele naquele
dia. Exatamente na mesma base chegou a cada um de nós desde aquele dia.
O Senhor mostrou aos fariseus que o
reino já estava em seu meio em Sua própria Pessoa; Ele também havia novamente dito
a Seus discípulos sobre Sua iminente morte e ressurreição. No entanto, eles ainda
nutriam expectativas quanto ao aparecimento imediato do reino em glória. Então o
Senhor acrescentou a parábola, dos versículos 11-27, como mais uma correção para
esses pensamentos deles. O tempo do reino viria, quando todos os Seus inimigos seriam
destruídos; mas primeiro vem um período de Sua ausência, quando a fidelidade e diligência
de Seus servos seriam testadas. Para cada servo, a mesma quantia é confiada, de
modo que a diferença no resultado surgiu de sua diligência e habilidade, ou de alguma
outra forma. De acordo com a diligência de cada um, foram recompensados no dia
do reino. O servo, que não fez nada, apenas mostrou que ele não conhecia realmente
o seu Senhor. Como resultado, não só não teve recompensa, mas sofreu perda.
Este é outro lembrete de que a graça
nos chama para um lugar de responsabilidade e serviço, e que o nosso lugar no reino
dependerá da diligência que temos empregado com aquilo que nos foi confiado.
Tendo falado a parábola das minas, o
Senhor ia caminhando adiante com Seus discípulos, subindo em direção a Jerusalém,
e chegando a Betfagé e Betânia, Ele enviou a buscar o jumentinho, no qual Ele fez
Sua entrada na cidade, de acordo com a profecia de Zacarias. O jumentinho era chucro,
pois nenhum homem havia se sentado nele e, consequentemente, estava preso sob restrição.
Foi solto da contenção, mas apenas para que Ele pudesse sentar-Se sobre ele. Sob
a mão poderosa, ele estava perfeitamente contido. Uma parábola disto, de como a
graça nos liberta da escravidão da lei.
Embora o reino não era para ser estabelecido
em glória neste momento, mesmo assim Ele Se apresentou dessa maneira tão definidamente
a Jerusalém como seu legítimo Rei enviado por Deus. Seus discípulos ajudaram nisso
e, quando se aproximaram da cidade, começaram a louvar a Deus e a se regozijar.
João 12:16 nos diz claramente que naquele momento eles não entendiam realmente o
que estavam fazendo, mas é evidente que o Espírito de Deus tomou posse de seus lábios
e os guiou em suas palavras. Eles O aclamaram como o Rei, e eles falaram de “paz no céu e glória nas alturas”.
Na encarnação, os anjos haviam celebrado
“paz na Terra”, pois o Homem em Quem
Deus Se comprazia havia aparecido e celebravam todo o resultado de Sua obra. Mas
agora estava claro que a morte estava diante d’Ele e que Sua rejeição implicaria
um período de qualquer coisa, menos paz na Terra. No entanto, o primeiro efeito
de Sua obra na cruz seria estabelecer a paz na mais alta de todas as Cortes – no
céu – e manifestar a glória nas maiores alturas, subindo Ele mesmo até lá em triunfo.
Esta nota de louvor teve que ser soada nesta circunstância. Deus poderia ter feito
as pedras clamarem, mas ao invés disso Ele usou os lábios dos discípulos, embora
eles proferissem palavras sem plena inteligência do seu significado.
Agora vem um contraste impressionante.
Ao se aproximarem da cidade, os discípulos se regozijaram e clamaram bendições ao
rei. O próprio Rei chorou pela cidade! Em João 11:35, a palavra usada indica lágrimas
silenciosas; aqui a palavra usada indica irromper em lamentação, de forma visível
e audível. O lamento de Jeová sobre Israel, como registrado no Salmo 81:13, reaparece
aqui, apenas grandemente acentuado ao se aproximarem do maior de todos os seus terríveis
pecados. Jerusalém não conhecia as coisas que pertenciam à sua paz, por isso a paz
na Terra era impossível naquele tempo, e o Senhor previu e predisse sua violenta
destruição nas mãos dos romanos, que aconteceu quarenta anos depois. O Oriente do
alto visitou-os, e eles não conheciam o tempo de sua visitação.
Como consequência, tudo em Jerusalém
estava em desordem. Entrando na cidade, o Senhor foi direto ao seu próprio centro
e no templo encontrou o mal estabelecido. A casa de Jeová, destinada a ser uma casa
de oração para todas as nações, era apenas um covil de ladrões, de modo que qualquer
estranho, chegando lá como alguém que buscava a Deus, era enganado na obtenção dos
sacrifícios necessários. Assim, ele seria repelido do verdadeiro Deus, em vez de
ser atraído por Ele. Desse modo, nas mãos dos homens, a casa de Deus havia sido
totalmente pervertida quanto ao seu uso apropriado. Além disso, os homens que detinham
a autoridade na casa eram potencialmente homicidas, como mostra o versículo 47:
assim, ela se tornara reduto de homicidas, bem como covis de ladrões. Poderia alguma
coisa ser pior do que isso? Não é de se admirar que Deus os tenha varrido pelos
romanos quarenta anos depois!