quarta-feira, 19 de junho de 2019

LUCAS 3

LUCAS 3




O início do ministério de João está plenamente determinado nos dois primeiros versículos. Eles mostram que as coisas estavam inteiramente fora de curso; o governo havia passado aos gentios, e mesmo em Israel as coisas estavam em confusão, pois havia dois sumos sacerdotes em vez de um. Por isso, o arrependimento foi a nota dominante em sua pregação. Os profetas anteriores haviam arrazoado com Israel e lhes lembraram da quebra da lei. João não faz mais isso, mas exige arrependimento. Eles deveriam reconhecer que estavam irremediavelmente perdidos com base na lei e deveriam tomar seu lugar como homens mortos nas águas de seu batismo. Foi “o batismo de arrependimento para o perdão [a remissão – ARA] de pecados”. Se ouvissem João e se arrependessem, estariam moralmente preparados para receber a remissão de pecados por meio daqu’Ele que estava para vir. Assim, o caminho diante do Senhor seria endireitado.
Note como esta citação de Isaías fala da vinda de Jeová e como esta vinda de Jeová é obviamente cumprida em Jesus. O versículo 5 declara a mesma verdade que tínhamos em Lucas 1:52-53 e 2:34, apenas colocando na linguagem mais figurativa. O versículo 6 mostra que, como aqu’Ele que estava para vir era Um não menos do que Jeová, a salvação que Ele traria não deveria ser confinada aos estreitos limites de Israel, mas seria para “toda carne” (ARA). A graça estava prestes a chegar e transbordaria em todas as direções. Essa graça é um dos temas especiais do evangelho de Lucas.
Mas João não apenas pregou o arrependimento de uma maneira geral, ele também fez disso um assunto muito contundente e pessoal. Multidões se aglomeravam a ele, e seu ameaçador batismo começou a se tornar como que um culto popular, quase uma atividade em moda. As coisas funcionam da mesma maneira hoje: qualquer ordenança religiosa, como o batismo, se degenera muito facilmente em uma espécie de festa popular. Evidentemente, João não teve o menor medo de ofender sua audiência e estragar sua própria popularidade. Nada poderia ser mais vigoroso do que suas palavras registradas nos versículos 7-9. Ele disse ao povo o que eles claramente eram; avisou-os da ira vindoura; ele clamou pelo arrependimento genuíno que produziria frutos; ele mostrou que nenhum lugar de privilégio religioso lhes valeria, pois Deus estava prestes a julgar as próprias raízes das coisas. O machado estava prestes a cortar, não os galhos, mas prestes a atingir a raiz para derrubar a árvore inteira. Esta era uma figura muito explicativa; e cumprida não na execução do julgamento exterior, como marcará o segundo Advento, mas naquele julgamento moral que foi alcançado na cruz. O segundo Advento será caracterizado pelo fogo que consumirá a árvore morta: o primeiro Advento conduziu à cruz, onde a sentença judicial de condenação foi promulgada contra Adão e sua raça; ou em outras palavras, quando a árvore foi cortada.
João exigiu ações, não palavras, como frutos práticos do arrependimento, e isso levou à pergunta do povo, registrada no versículo 10. Os publicanos e os soldados seguiram com perguntas semelhantes. Por suas respostas em cada caso, João colocou o dedo sobre os pecados particulares que marcaram as diferentes classes. No entanto, embora as respostas variassem, podemos ver que a cobiça provocou todos os erros com os quais ele lidou. De todas as ervas daninhas que florescem no coração humano, a cobiça é mais profunda e difícil de lidar: como o dente-de-leão, suas raízes penetram a uma grande profundidade. O verdadeiro arrependimento leva à verdadeira conversão do antigo caminho de pecado, e João sabia disso.
Assim, João preparou o caminho do Senhor, e não apenas isso, mas também apontou fielmente para Ele, e nem por um momento permitiu que o povo pensasse grandes coisas de si mesmo. Ele se proclamou ser apenas o mais humilde servo da grande Pessoa que estava vindo – tão humilde a ponto de ser indigno de realizar o serviço mais simples de desamarrar Suas sandálias. O que viria era tão grande que Ele batizaria os homens com o Espírito Santo e com fogo: o primeiro para abençoar e o último para o julgamento, como o próximo versículo torna abundantemente claro. Aqui, novamente, podemos notar que os dois Adventos não são ainda claramente distinguidos. Houve um batismo do Espírito, registrado em Atos 2, como resultado do Primeiro Advento, mas o batismo com fogo, de acordo com o versículo 17, aguarda o Segundo Advento.
Lucas registra o ministério fiel de João e, em seguida, rapidamente o descarta a fim de abrir caminho para Jesus. O aprisionamento de João não ocorreu exatamente nessa ocasião, mas Lucas se desvia da ordem histórica para colocar a coisa diante de nós de maneira moral e espiritual. O ministério de João, semelhante ao de Elias, desaparece diante daqu’Ele que seria o Vaso da graça de Deus; e Quem foi batizado, e assim introduzido ao Seu ministério. Não nos é dito aqui que foi João quem O batizou, mas nos é dito que Ele estava orando quando foi batizado, algo que não é mencionado em qualquer outra parte. Este evangelho evidentemente enfatiza a perfeição da humanidade de nosso Senhor. A graça para o homem é investida em Alguém que é o Homem perfeito, e a primeira característica da perfeição no homem é a dependência de Deus. A oração é uma expressão dessa dependência, e vamos notar neste evangelho quantas vezes é registrado que Jesus orou. Esta é a primeira instância.
Neste Homem de oração e dependente, o Espírito Santo desceu em forma corpórea como uma pomba, enquanto a voz do Pai declarava que Ele era o Filho amado, o Objeto de todo o deleite divino. Assim, finalmente, a verdade da Trindade se tornou manifesta. O Espírito tornou-Se por um momento visível; o Pai tornou-Se audível; o Filho estava aqui em carne e osso e, consequentemente, não apenas visível e audível, mas tangível também. É maravilhoso que o céu é aberto e toda a sua atenção se concentre em um Homem orando na Terra. Mas naqu’Ele Homem que orava, Deus deveria ser conhecido, pois “n’Ele toda a plenitude da Divindade tinha prazer em habitar” (Cl 1:19 – JND).
Tendo assim, a voz do Pai O reconhecido como o Filho amado, Lucas agora apresenta Sua genealogia por meio de Maria para mostrar quão realmente Ele também é Homem. Mateus traça Sua descendência desde Abraão, o depositário da promessa, e desde Davi, o depositário da realeza. Lucas traça Sua ascendência até Adão e até Deus, pois é simplesmente a Sua Humanidade que é o ponto, e isso foi por Maria, pois José era apenas Seu suposto pai. Ele é verdadeiramente um Homem, embora o Filho de Deus. Ele é o segundo Homem, o Senhor do céu, aqu’Ele transbordante com a graça de Deus.

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