sexta-feira, 21 de junho de 2019

LUCAS 6

LUCAS 6




Ao abrimos este capítulo, vemos os fariseus e escribas tentando limitar as ações dos discípulos, e depois também o poder de graça do Senhor, dentro dos limites do sábado judaico, como eles estavam acostumados a fazer cumprir. Isso ilustra Seu ensinamento no final do capítulo 5, e como resultado o “odre” do sábado judaico explode, e a graça flui apesar deles.
As palavras “no sábado segundo-primeiro” cremos que se refiram a Levítico 23:9-14, e se destinem a nos mostrar que o “molho das primícias” já havia sido oferecido e, portanto, não havia impedimento à ação dos discípulos, exceto a estrita imposição do sábado pelos fariseus. A resposta do Senhor à sua objeção foi dupla: primeiro, Sua posição; segundo, Sua Pessoa.
Sua posição foi análoga à de Davi quando entrou na casa de Deus e comeu do pão da proposição. Davi era o rei ungido de Deus e ainda rejeitado, e não era a mente de Deus que Seu ungido e seus seguidores devessem morrer de fome a fim de manter pequenos detalhes técnicos da lei. Todo o sistema de Israel estava fora de curso pela recusa do rei, e não havia tempo para se concentrar nos detalhes menores da lei. Então aqui, os fariseus estavam preocupados com trivialidades enquanto rejeitavam o Cristo.
O versículo 5 enfatiza a Sua Pessoa. O homem, como originalmente criado, foi feito senhor da criação terrena. O Filho do Homem é o Senhor sobre uma esfera muito mais ampla. Ele não estava preso ao sábado, o sábado estava à Sua disposição. Quem então é este Filho do Homem? Isso era o que os fariseus não sabiam, mas o Senhor indicou Sua grandeza por essa afirmação que fez.
O incidente relativo ao homem com a mão mirrada segue nos versículos 6-11. Aqui, novamente, surgiu a questão do sábado, e os fariseus pressionaram suas objeções técnicas ao proibir o exercício da misericórdia naquele dia. Aqui vemos não a afirmação da posição do Senhor, nem da Sua Pessoa, mas do Seu poder. Ele tinha poder para curar em graça e aquele poder Ele exerceu, quer tenham gostado ou não. Ele aceitou o desafio deles, e fazendo o homem se levantar no meio, Ele o curou da maneira mais pública possível. Os príncipes dos filisteus tentaram amarrar as mãos de Sansão com “sete vergas de vimes frescos”, mas tentaram em vão. Os príncipes de Israel estavam tentando fazer cordas da lei do sábado, com o objetivo de amarrar as mãos de graça de Jesus, e eles também tentaram em vão.
Não conseguindo fazê-lo, ficaram cheios de raiva e começaram a planejar Sua morte. Em face de seu ódio crescente, Jesus Se retirou para o isolamento da comunhão com Deus. No último capítulo, vemos Ele Se retirando para a oração, quando multidões O apertavam e o sucesso parecia ser d’Ele. Ele faz exatamente o mesmo quando negras nuvens de oposição parecem envolvê-Lo. Em todas as circunstâncias, a oração era o recurso do Homem perfeito.
É significativo ainda que o que se seguiu a esta noite de oração foi a escolha dos doze homens que deveriam ser enviados como apóstolos. Entre os doze estava Judas Iscariotes, e porque ele deveria ter sido incluído nos parece misterioso. O Senhor o escolheu, no entanto, e assim sua escolha estava certa. Nenhum erro foi cometido depois daquela noite de oração.
Do versículo 17 até o final do capítulo, recebemos um registro da instrução que Ele deu aos Seus discípulos e, especialmente, a esses doze homens. Podemos dar um resumo geral de Suas declarações dizendo que Ele os instruiu quanto ao caráter que seria produzido neles pela graça de Deus que Ele estava dando a conhecer. O discurso se parece muito com o Sermão da Montanha de Mateus 5-7, mas a ocasião parece ter sido diferente. Sem dúvida, o Senhor repetidamente disse coisas muito semelhantes a multidões variadas de pessoas.
Nessa ocasião, o Senhor dirigiu-Se a Seus discípulos pessoalmente. Em Mateus, Ele descreveu determinada classe e diz que deles é o reino. Aqui Ele diz: vosso é o reino”, identificando aquela classe com os discípulos. Seus discípulos eram os pobres, os famintos, os que choravam, os odiados e reprovados. Uma descrição como essa mostra que ele já estava tratando Sua própria rejeição como uma certeza, e os versículos seguintes (24-26) mostram que Ele estava dividindo o povo em duas classes: havia aqueles que se identificaram com Ele mesmo, compartilhando Suas tristezas e aqueles que eram do mundo e compartilhando as transitórias alegrias mundanas; sobre a cabeça de uns Ele invocou uma bem-aventurança, sobre a cabeça dos outros, um “ai”. Isto, claro, envolvia uma tremenda contradição. O triste e rejeitado é o abençoado; o alegre e popular está sob julgamento. Mas um segue os passos do Filho do Homem e sofre por causa d’Ele: e outro segue no caminho dos falsos profetas.
Tendo assim pronunciado uma bênção sobre Seus discípulos, Ele lhes dá instruções que, se colocadas em prática, significaria que elas refletiriam Seu próprio espírito de graça. Ele na verdade não os envia por enquanto, mas os instrui em vista de seu envio para representá-Lo e servir aos Seus interesses. O espírito de graça é especialmente marcado nos versículos 27-38. O amor que pode sair e até mesmo abraçar um inimigo não é humano, mas divino; enquanto qualquer pecador pode amar aquele que o ama. O discípulo de Jesus deve ser um amante, um abençoador, um doador; e, por outro lado, ele não deve ser aquele que julga e condena. Isso não significa que um discípulo não tenha poderes de bom senso e discernimento, mas significa que ele não deve ser caracterizado pelo espírito censurador que é rápido em atribuir motivos errados e assim julgar outras pessoas.
Essas instruções foram exatamente adequadas àqueles que foram chamados a seguir a Cristo durante Sua permanência na Terra. O espírito deles aplica-se igualmente àqueles chamados a segui-Lo durante Sua ausência da Terra. Este é o dia da graça, em que o evangelho da graça está sendo pregado, e é, portanto, da maior importância que devamos ser marcados pelo espírito da graça. Quantas vezes, infelizmente, nossa conduta desmentiu a causa com a qual estamos identificados. Uma grande quantidade de pregação da graça pode ser totalmente anulada por um pequeno comportamento indelicado por parte do pregador ou de seus amigos. Pela manifestação do amor, provamos ser os verdadeiros filhos de Deus – o Deus que é “benigno até para com os ingratos e maus”.
Não é tão fácil discernir a sequência do ensinamento contida nos versículos 39-49, mas há uma sequência indubitavelmente. Estes discípulos deveriam ser enviados como apóstolos em pouco tempo, então eles precisam estar vendo a si mesmos como pessoas. Se eram para estar vendo, deveriam ser ensinados; e para isso deveriam tomar o lugar humilde aos pés de seu Mestre. Eles não estavam acima d’Ele: Ele estava acima deles, e o objetivo colocado diante deles era ser como Ele. Ele era perfeição, e quando seu “curso universitário” fosse concluído, eles seriam como Ele é.
Para que isso seja assim, um espírito de julgamento próprio deve ser cultivado. Nossa tendência natural é julgar os outros e perceber suas menores falhas. Se julgarmos a nós mesmos, podemos descobrir algumas falhas muito substanciais. E a fé julgando-nos plenamente, poderá nos habilitar, eventualmente, a ajudar outros.
Do versículo 43, a profissão externa de discipulado é contemplada. Ao falar assim o Senhor pode ter tido alguém como Judas especificamente em vista. Entre aqueles que tomaram a posição de serem seus discípulos, pode ser encontrado tanto “um homem mau”, como “um homem bom”. Eles devem ser discernidos por seus frutos, vistos tanto em palavras como em ações. A natureza é revelada pelos frutos. Não podemos penetrar nos segredos da natureza, nem em uma árvore, nem em um homem, mas podemos facilmente e corretamente deduzir a natureza pelo fruto.
Isso leva à consideração de que a mera profissão não tem qualquer valor. Os homens podem repetidamente chamar Jesus de seu Senhor, mas se não houver obediência à Sua palavra, não há discipulado que Ele reconheça. O tipo de fundamento que não pode ser abalado sob as provas é estabelecido apenas pela obediência. O simples ouvir de Sua palavra à parte da obediência pode erigir um edifício que se pareça com a coisa real; mas se mostrará um desastre no dia da prova.
Vamos todos nos colocar sob o poder perscrutador desta palavra. O verdadeiro crente precisa enfrentá-lo, e nenhum de nós pode escapar disso. Isso se aplica a todo o círculo da verdade. Nada é real e solidamente nosso até que o submetamos à obediência da fé – não apenas a concordância da fé, mas a OBEDIÊNCIA da fé. Então, e somente então, nos tornaremos estabelecidos nela, de tal maneira que estaremos com “os alicerces sobre a rocha”.
Estas palavras de nosso Senhor revelam para nós, sem dúvida, o segredo de muitos trágicos colapsos no que diz respeito ao seu testemunho, por parte dos verdadeiros crentes; como também colapso e abandono da profissão de discipulado por parte daqueles que a adotaram sem qualquer veracidade.
A veracidade é aquilo que, acima de todas as coisas, o Senhor requer.

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