quarta-feira, 3 de julho de 2019

LUCAS 13

LUCAS 13



Naquele momento, alguns dos presentes mencionaram o caso de certos infelizes homens da Galileia, que haviam pagado a pena extrema sob Pilatos. Eles tinham a impressão de que aqueles eram pecadores mais profundamente manchados. O Senhor acusou seus ouvintes de que a culpa deles próprios era tão grande quanto a daqueles, e que também pereceriam, e citou o caso dos dezoito mortos pela queda da torre em Siloé. Na visão popular, esses foram acontecimentos excepcionais que indicavam maldade excepcional. As pessoas que O escutavam estavam comprometidas com piores perversidades ao falhar em entender suas oportunidades; e, rejeitando-O, eles não escapariam. Assim, Ele os advertiu sobre a retribuição que vinha sobre eles.
Na parábola da figueira, vemos estabelecido o terreno da retribuição (vs. 6-10). Deus tinha todo o direito de esperar frutos do povo; Ele procurou, mas não encontrou nenhum. Então, por um ano, haveria ministério para a árvore em vez de demanda da árvore. Jesus estava entre eles, ministrando-lhes a graça de Deus, em vez de lhes pressionar as exigências da lei. Se não houvesse resposta a isso, então o golpe deveria cair. Em tudo isso, Seu ensinamento flui a partir do final do capítulo 12: não há ruptura real entre os capítulos.
Agora vem o belo incidente, versículos 10-17, no qual é apresentado figurativamente o que a graça realizará, onde ela for recebida. A pobre mulher, embora curvada e desamparada, era alguém que esperava na provisão de Deus na sinagoga. Sua condição física era uma figura adequada da difícil situação espiritual de muitos. Eles estavam cheios de enfermidades espirituais, e achavam a lei ser um jugo opressivo, tanto que sob seu peso eles estavam juntamente curvados, incapazes de se endireitarem e olhar para cima.
Esta mulher era uma “filha de Abraão”, isto é, uma verdadeira filha da fé – veja Gálatas 3:7. No entanto, Satanás tinha parte em seu triste estado, aproveitando-se de sua enfermidade. Além disso, o príncipe da sinagoga teria usado a lei cerimonial para impedir que ela fosse curada. Mas o Senhor pôs tudo isso de lado. Por Sua Palavra e por Seu toque pessoal, Ele realizou sua libertação imediata. Muitos são os que diriam: “Comigo estavam a lei, a enfermidade, a escravidão sem esperanças e o poder de Satanás, até que Cristo interveio no poder de Sua graça: então, que mudança!” Libertações como essas envergonham os adversários e enchem muitos de alegria. São, de fato, “coisas gloriosas que eram feitas por Ele”.
Nesse ponto, o Senhor mostrou que mesmo a introdução da graça e do poder do reino não resultaria em um estado de coisas absolutamente perfeito. As parábolas do grão de mostarda e do fermento, trazidas aqui, indicam que, embora houvesse muito crescimento e expansão na forma exterior do reino, ele seria acompanhado por elementos indesejáveis ​​e até pela corrupção.
Com o versículo 22 de nosso capítulo, uma ruptura distinta vem de um ponto de vista histórico. O Senhor agora é visto viajando para Jerusalém, ensinando nas cidades e aldeias pelas quais passava. Mas, embora isso seja assim, não parece haver nenhuma ruptura marcante registrada em seu ensino. A pergunta no versículo 23 parece ter sido motivada pela curiosidade e, em resposta, o Senhor deu uma palavra de instrução e advertência que estava muito de acordo com o que acabara de acontecer. Já que a chegada da graça do reino iria resultar na mistura das coisas, retratada nas parábolas do grão de mostarda e do fermento, então o caminho estreito da vida deve ser procurado com muita sinceridade e seriedade.
A palavra “porfiai [esforçai-vos – ARA], no versículo 24, não significa trabalhos de qualquer tipo, mas dedicação de tal intensidade como se fosse quase uma agonia. É como se Ele dissesse: “Agonize-se para entrar pela porta estreita enquanto a oportunidade perdura”. Muitos buscam uma entrada mais ampla por meio de coisas do tipo cerimonial, como indicado no versículo 26. Mas somente aquilo que é pessoal e espiritual contará. Não há entrada real senão por meio do caminho estreito do arrependimento. Então, novamente aqui o Senhor mostra a futilidade de uma religião meramente exterior. Deve haver realidade interior.
As parábolas dos versículos 18-21 mostram que haverá mistura no reino em sua forma atual; mas o versículo 28 mostra que em sua forma vindoura não haverá nenhuma mistura. Então os patriarcas estarão no reino e os meros cerimonialistas serão expulsos. O versículo 29 dá uma sugestão do chamamento dos gentios que estava iminente, pois a graça estava prestes a sair por todo o mundo com efeitos poderosos. A graça, como vimos muito antes neste evangelho, não pode ser confinada dentro dos limites ou formas judaicas. Como novo vinho, vai estourar os odres. Historicamente o judeu foi o primeiro, mas na presença da graça seu arraigado legalismo muitas vezes o impediu, de modo que ele chegou em último lugar. O gentio, que não tinha impedimento assim, torna-se o primeiro quando a graça está em questão.
O capítulo se encerra com uma nota muito solene. Agora não é o judeu, mas Herodes que vem para o julgamento. Herodes encobriu sua animosidade com a astúcia de uma raposa, mas Jesus o conhecia completamente. Ele sabia também que a Sua própria vida, caracterizada pela misericórdia para o homem, deveria ser aperfeiçoada[1] pela morte e ressurreição. O ódio de Herodes, no entanto, era uma coisa pequena. A grande coisa foi a rejeição, por Jerusalém, de Cristo e de toda a graça que estava n’Ele. Eles eram o povo ao qual Deus havia rogado pelos profetas e que agora Ele iria reunir por Seu Filho. A figura usada é muito bonita. Os profetas haviam lembrado a eles de seus deveres sob a lei quebrada, enquanto previam a vinda do Messias. Agora Ele veio na plenitude da graça, e o abrigo de Suas asas protetoras poderia ter sido deles. Tudo, no entanto, foi em vão.
Jerusalém se gabou da bela casa que estava no meio dela. Jesus havia falado dela antes como “a casa de Meu Pai”, agora Ele a renuncia dizendo ser “vossa casa”, e Ele a deixa para eles desolada e vazia. Jerusalém havia perdido sua oportunidade e logo não iria ver seu Messias até que o clamor do Salmo 118:26 seja ouvido, que procede “desde a casa do Senhor”. Esse clamor não será ouvido nos lábios de Jerusalém até o dia de Seu segundo advento.


[1] N. do T.: A tradução de J. N. Darby do versículo 32 diz: “... Eis que Eu expulso demônios e realizo curas hoje e amanhã, e no terceiro dia Sou aperfeiçoado.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário