Então Ele ergueu os olhos, e eis alguns
desses homens ricos lançando ostensivamente seu dinheiro para o tesouro do templo,
e entre eles veio uma pobre viúva que lançou suas duas moedas. Não devemos permitir
que a divisão dos capítulos separe em nossa mente esses versículos iniciais dos
últimos dois de Lucas 20. A viúva era presumivelmente uma daquelas cuja “casa” havia sido devorada, mas em vez de
se lamentar, ela lançou suas últimas duas moedas no tesouro do templo. Sob essas
circunstâncias, sua oferta foi realmente grande, e o Senhor declarou ser assim.
Ela foi ao limite máximo; lançando no tesouro toda sua posse.
Nem devemos dissociar desse tocante
incidente os versículos que se seguem, particularmente no versículo 6. A viúva expressou
sua devoção a Deus ao lançar suas duas moedas na coleta para a manutenção da
estrutura do templo; ainda assim o Senhor prossegue predizendo a destruição total
do templo. Já tinha sido substituído pela presença do Senhor. Deus estava em Cristo,
não no templo de Herodes. Em seu entendimento a viúva estava, como poderíamos dizer,
desatualizada; no entanto, isso não manchou a aprovação do Senhor de sua oferta.
Ele realmente aprecia devoção de todo
o coração, mesmo que sua expressão não seja marcada por plena inteligência. Isso
deve ser um grande conforto para nós.
Lucas agora nos dá o discurso profético
do Senhor, registrando a parte em que especialmente respondeu à pergunta dos discípulos,
conforme registrado no versículo 7. Como o relato de Mateus mostra, tanto a pergunta
deles quanto a resposta do Senhor continham muito mais do que aquilo que Lucas
registra. Aqui a questão é quanto ao tempo da derrubada do templo e o sinal disso.
A resposta divide-se em duas partes: os versículos 8-24 falam de eventos que levaram
à destruição e derrubada de Jerusalém pelos romanos; versículos 25-33, falam da
Aparição do Filho do Homem no final dos tempos.
É muito perceptível como o Senhor apresenta
toda a questão, não como uma massa de detalhes, apelando à nossa curiosidade, mas
como previsões que soam uma nota de advertência, e transmitem instruções de suma
importância para Seus discípulos. Tudo é declarado de maneira a atrair nossa consciência
e não nossa curiosidade.
A primeira parte do discurso, versículos
8-19, está ocupada com instruções muito pessoais aos discípulos. O Senhor de fato
faz as seguintes previsões:
1) O surgimento de falsos Cristos,
2) Guerras e tumultos, juntamente com acontecimentos anormais no mundo
físico ao redor,
3) A chegada de amarga oposição e perseguição, até a morte.
Mas em cada caso,
Seus discípulos devem ser prevenidos por Seus avisos. Eles não são, nem por um momento,
para serem enganados por falsos Cristos, ou segui-los. Eles não devem ter medo dos
movimentos violentos dos homens, nem imaginar que essas convulsões signifiquem que
o fim está vindo imediatamente –
pois este é o que “logo” significa aqui (v. 9). Eles devem aceitar a perseguição
como uma oportunidade para testemunho e, ao testificar, não devem confiar em uma
defesa preparada, mas na sabedoria sobrenatural a ser concedida a eles quando o
momento chegar.
O versículo 18 é evidentemente destinado
a transmitir o modo pessoal e íntimo em que Deus cuidaria deles. As palavras finais
do versículo 16 mostram que isso não significa que todos eles escapariam; mas, mesmo
que a morte os levasse, tudo seria restaurado na ressurreição. Pela paciente perseverança
eles vencem, seja na vida ou na morte. Este parece ser o significado do versículo
19. Podemos ver no livro dos Atos como essas coisas foram cumpridas nos apóstolos.
Então, nos versículos 20-24, Ele prediz
a desolação de Jerusalém. Nenhuma palavra aparece aqui sobre o estabelecimento da
“abominação da desolação”, pois isso
é apenas para acontecer no fim dos tempos dos gentios: todas as coisas que o Senhor
especifica foram cumpridas quando Jerusalém foi destruída pelos romanos. Então
a cidade estava cercada de exércitos. Então aqueles que acreditaram nas palavras
de Jesus fugiram para as montanhas e assim escaparam dos horrores do cerco. Então
ali começaram os “dias de vingança” para
o judeu, que não cessará para eles até que tudo o que está previsto seja cumprido.
Então começou o longo cativeiro que persistiu, e persistirá, com Jerusalém
sob os pés das nações, até que os tempos dos gentios terminem. Aqueles tempos começaram
quando Deus levantou Nabucodonosor, que desapossou a última linhagem do rei de Davi,
e eles terminarão pelo esmagamento do domínio gentio na Aparição de Cristo.
Consequentemente, o versículo 25 nos
leva diretamente ao tempo do fim, e fala de coisas que precederão Seu advento. Haverá
sinais nas regiões celestiais e na Terra, angústia e perplexidade; “mar e ondas” sendo expressões figurativas
das massas da humanidade em um estado de violenta inquietação e agitação. Como resultado,
os homens estarão “prontos para morrer pelo
medo e expectativa do que está por vir” (JND). Em vista do estado de coisas
que prevalece na Terra, como escrevemos, não é difícil conceber a condição das coisas
que o Senhor prediz.
Este é o momento em que Deus vai abalar
os céus e a Terra, como predisse Ageu; e quando somente as coisas que não podem
ser abaladas permanecerão. Tudo levará à pública Aparição do Filho do Homem em poder
e grande glória. O dia da Sua pobreza acabará, assim como o dia da Sua paciência;
e o dia do Seu poder, do qual fala o Salmo 110, terá chegado plenamente. Antes de
Sua vinda, os corações dos homens não convertidos se encherão de medo: quando Ele
vier, seus piores temores serão concretizados, e “todas as tribos da Terra se lamentarão por causa d’Ele” (Ap 1:7 –
JND).
Mas para os Seus santos, Sua vinda terá
outro aspecto, como o versículo 28 manifesta alegremente. Para eles, significa uma
redenção final, quando toda a criação será libertada da escravidão da corrupção.
Sendo assim, os primeiros sinais de Seu advento são para nos encher de uma alegre
antecipação. Devemos “olhar para cima”,
pois o próximo movimento que realmente conta virá da mão direita de Deus, onde Ele
está sentado. Devemos “levantar nossas cabeças”,
e não deixá-las deprimidas ou com medo. As mesmas coisas que assustam o mundo são
para encher o crente com o otimismo da santa expectativa.
Em seguida vem a curta parábola da figueira.
É dita ser “uma parábola”, mas note,
não uma mera ilustração. A figueira representa o judeu nacionalmente. Há séculos
que ele está morto em nível nacional, e quando finalmente há sinais de reavivamento
nacional com eles e sinais de reavivamento também com outras “árvores” de nacionalidades antigas, podemos
saber que o “verão” milenar está próximo.
Até que esse tempo chegue, não passará “esta
geração” – por esse termo o Senhor indicou, cremos, aquela “geração perversa ... em quem não há fidelidade” (TB), da qual
Moisés falou em Deuteronômio 32:5, 20. Quando o reino for estabelecido, aquela geração
terá desaparecido.
O breve relato de Lucas da profecia
do Senhor termina com as solenes palavras em que Ele afirmou a verdade e a confiabilidade
de Suas palavras. Cada palavra dos Seus lábios tem algo nela, algo para ser cumprido,
e é mais estável que os céus e a Terra. Assim, o versículo 33 fornece o impressionante
pensamento de que as palavras de Seus lábios são mais duradouras do que as obras
de Suas mãos.
Ele encerra com outro apelo às consciências
de Seus discípulos e às nossas também. Sem dúvida, esses três versículos, 34, 35,
36, têm aplicação especial para os santos que estarão na Terra pouco antes de Sua
Aparição, mas eles têm uma grande voz para o crente hoje. Uma multiplicidade de
prazeres nos rodeia, e podemos facilmente nos sobrecarregar com o excesso deles.
Por outro lado, nunca houve mais e maiores perigos no horizonte, e nosso coração
pode estar cheio de pressentimentos, de modo a perdemos de vista o dia que está
chegando. É muito possível ocupar-se tanto com os feitos dos ditadores e com o progresso
dos movimentos mundiais que a vinda do Senhor seja obscurecida em nossas mentes.
A palavra para nós é: “Vigiai pois em
todo o tempo, orando”. Então estaremos completamente despertos e prontos para
saudar o Senhor quando Ele vier.
Nos versículos finais do capítulo, Lucas
nos lembra de que Ele, que desse modo previu a Sua vinda novamente, ainda era o
Rejeitado. Durante o dia, por toda aquela última semana, Ele diligentemente proferiu
a Palavra de Deus: à noite, não tendo lar, Ele permaneceu no Monte das Oliveiras.