LUCAS 21

Então Ele ergueu os olhos, e eis alguns desses homens ricos lançando ostensivamente seu dinheiro para o tesouro do templo, e entre eles veio uma pobre viúva que lançou suas duas moedas. Não devemos permitir que a divisão dos capítulos separe em nossa mente esses versículos iniciais dos últimos dois de Lucas 20. A viúva era presumivelmente uma daquelas cuja “casa” havia sido devorada, mas em vez de se lamentar, ela lançou suas últimas duas moedas no tesouro do templo. Sob essas circunstâncias, sua oferta foi realmente grande, e o Senhor declarou ser assim. Ela foi ao limite máximo; lançando no tesouro toda sua posse.
Nem devemos dissociar desse tocante incidente os versículos que se seguem, particularmente no versículo 6. A viúva expressou sua devoção a Deus ao lançar suas duas moedas na coleta para a manutenção da estrutura do templo; ainda assim o Senhor prossegue predizendo a destruição total do templo. Já tinha sido substituído pela presença do Senhor. Deus estava em Cristo, não no templo de Herodes. Em seu entendimento a viúva estava, como poderíamos dizer, desatualizada; no entanto, isso não manchou a aprovação do Senhor de sua oferta. Ele realmente aprecia devoção de todo o coração, mesmo que sua expressão não seja marcada por plena inteligência. Isso deve ser um grande conforto para nós.
Lucas agora nos dá o discurso profético do Senhor, registrando a parte em que especialmente respondeu à pergunta dos discípulos, conforme registrado no versículo 7. Como o relato de Mateus mostra, tanto a pergunta deles quanto a resposta do Senhor continham muito mais do que aquilo que Lucas registra. Aqui a questão é quanto ao tempo da derrubada do templo e o sinal disso. A resposta divide-se em duas partes: os versículos 8-24 falam de eventos que levaram à destruição e derrubada de Jerusalém pelos romanos; versículos 25-33, falam da Aparição do Filho do Homem no final dos tempos.
É muito perceptível como o Senhor apresenta toda a questão, não como uma massa de detalhes, apelando à nossa curiosidade, mas como previsões que soam uma nota de advertência, e transmitem instruções de suma importância para Seus discípulos. Tudo é declarado de maneira a atrair nossa consciência e não nossa curiosidade.
A primeira parte do discurso, versículos 8-19, está ocupada com instruções muito pessoais aos discípulos. O Senhor de fato faz as seguintes previsões:
1) O surgimento de falsos Cristos,
2) Guerras e tumultos, juntamente com acontecimentos anormais no mundo físico ao redor,
3) A chegada de amarga oposição e perseguição, até a morte.

Mas em cada caso, Seus discípulos devem ser prevenidos por Seus avisos. Eles não são, nem por um momento, para serem enganados por falsos Cristos, ou segui-los. Eles não devem ter medo dos movimentos violentos dos homens, nem imaginar que essas convulsões signifiquem que o fim está vindo imediatamente – pois este é o que “logo” significa aqui (v. 9). Eles devem aceitar a perseguição como uma oportunidade para testemunho e, ao testificar, não devem confiar em uma defesa preparada, mas na sabedoria sobrenatural a ser concedida a eles quando o momento chegar.
O versículo 18 é evidentemente destinado a transmitir o modo pessoal e íntimo em que Deus cuidaria deles. As palavras finais do versículo 16 mostram que isso não significa que todos eles escapariam; mas, mesmo que a morte os levasse, tudo seria restaurado na ressurreição. Pela paciente perseverança eles vencem, seja na vida ou na morte. Este parece ser o significado do versículo 19. Podemos ver no livro dos Atos como essas coisas foram cumpridas nos apóstolos.
Então, nos versículos 20-24, Ele prediz a desolação de Jerusalém. Nenhuma palavra aparece aqui sobre o estabelecimento da “abominação da desolação”, pois isso é apenas para acontecer no fim dos tempos dos gentios: todas as coisas que o Senhor especifica foram cumpridas quando Jerusalém foi destruída pelos romanos. Então a cidade estava cercada de exércitos. Então aqueles que acreditaram nas palavras de Jesus fugiram para as montanhas e assim escaparam dos horrores do cerco. Então ali começaram os “dias de vingança” para o judeu, que não cessará para eles até que tudo o que está previsto seja cumprido. Então começou o longo cativeiro que persistiu, e persistirá, com Jerusalém sob os pés das nações, até que os tempos dos gentios terminem. Aqueles tempos começaram quando Deus levantou Nabucodonosor, que desapossou a última linhagem do rei de Davi, e eles terminarão pelo esmagamento do domínio gentio na Aparição de Cristo.
Consequentemente, o versículo 25 nos leva diretamente ao tempo do fim, e fala de coisas que precederão Seu advento. Haverá sinais nas regiões celestiais e na Terra, angústia e perplexidade; “mar e ondas” sendo expressões figurativas das massas da humanidade em um estado de violenta inquietação e agitação. Como resultado, os homens estarão “prontos para morrer pelo medo e expectativa do que está por vir” (JND). Em vista do estado de coisas que prevalece na Terra, como escrevemos, não é difícil conceber a condição das coisas que o Senhor prediz.
Este é o momento em que Deus vai abalar os céus e a Terra, como predisse Ageu; e quando somente as coisas que não podem ser abaladas permanecerão. Tudo levará à pública Aparição do Filho do Homem em poder e grande glória. O dia da Sua pobreza acabará, assim como o dia da Sua paciência; e o dia do Seu poder, do qual fala o Salmo 110, terá chegado plenamente. Antes de Sua vinda, os corações dos homens não convertidos se encherão de medo: quando Ele vier, seus piores temores serão concretizados, e “todas as tribos da Terra se lamentarão por causa d’Ele” (Ap 1:7 – JND).
Mas para os Seus santos, Sua vinda terá outro aspecto, como o versículo 28 manifesta alegremente. Para eles, significa uma redenção final, quando toda a criação será libertada da escravidão da corrupção. Sendo assim, os primeiros sinais de Seu advento são para nos encher de uma alegre antecipação. Devemos “olhar para cima”, pois o próximo movimento que realmente conta virá da mão direita de Deus, onde Ele está sentado. Devemos “levantar nossas cabeças”, e não deixá-las deprimidas ou com medo. As mesmas coisas que assustam o mundo são para encher o crente com o otimismo da santa expectativa.
Em seguida vem a curta parábola da figueira. É dita ser “uma parábola”, mas note, não uma mera ilustração. A figueira representa o judeu nacionalmente. Há séculos que ele está morto em nível nacional, e quando finalmente há sinais de reavivamento nacional com eles e sinais de reavivamento também com outras “árvores” de nacionalidades antigas, podemos saber que o “verão” milenar está próximo. Até que esse tempo chegue, não passará “esta geração” – por esse termo o Senhor indicou, cremos, aquela “geração perversa ... em quem não há fidelidade” (TB), da qual Moisés falou em Deuteronômio 32:5, 20. Quando o reino for estabelecido, aquela geração terá desaparecido.
O breve relato de Lucas da profecia do Senhor termina com as solenes palavras em que Ele afirmou a verdade e a confiabilidade de Suas palavras. Cada palavra dos Seus lábios tem algo nela, algo para ser cumprido, e é mais estável que os céus e a Terra. Assim, o versículo 33 fornece o impressionante pensamento de que as palavras de Seus lábios são mais duradouras do que as obras de Suas mãos.
Ele encerra com outro apelo às consciências de Seus discípulos e às nossas também. Sem dúvida, esses três versículos, 34, 35, 36, têm aplicação especial para os santos que estarão na Terra pouco antes de Sua Aparição, mas eles têm uma grande voz para o crente hoje. Uma multiplicidade de prazeres nos rodeia, e podemos facilmente nos sobrecarregar com o excesso deles. Por outro lado, nunca houve mais e maiores perigos no horizonte, e nosso coração pode estar cheio de pressentimentos, de modo a perdemos de vista o dia que está chegando. É muito possível ocupar-se tanto com os feitos dos ditadores e com o progresso dos movimentos mundiais que a vinda do Senhor seja obscurecida em nossas mentes. A palavra para nós é: “Vigiai pois em todo o tempo, orando”. Então estaremos completamente despertos e prontos para saudar o Senhor quando Ele vier.
Nos versículos finais do capítulo, Lucas nos lembra de que Ele, que desse modo previu a Sua vinda novamente, ainda era o Rejeitado. Durante o dia, por toda aquela última semana, Ele diligentemente proferiu a Palavra de Deus: à noite, não tendo lar, Ele permaneceu no Monte das Oliveiras.