sábado, 6 de julho de 2019

LUCAS 22

LUCAS 22



Quando começamos a ler este capítulo, chegamos às cenas finais da vida de nosso Senhor. A Páscoa não foi apenas uma testemunha permanente da libertação de Israel do Egito, mas também uma figura do grande Sacrifício que ainda estava por vir. Agora, finalmente, o clímax se aproximava, e “Cristo, nossa Páscoa” deveria ser sacrificado por nós precisamente na época da Páscoa. Os líderes religiosos estavam planejando como poderiam matá-Lo, apesar do fato de que muitos do povo O viam com favor. Satanás inspirou o ódio deles, e foi ele quem apresentou a eles uma ferramenta para realizar seus desejos.
João, no seu evangelho, desmascara Judas para nós antes que o fim seja alcançado. Em seu décimo segundo capítulo, ele nos diz que, consumido pela cobiça, ele se tornou um ladrão. João também nos diz em seu décimo terceiro capítulo o momento exato em que Satanás entrou em Judas. Lucas relata esse fato terrível de uma maneira mais geral; e mostra que o príncipe dos poderes das trevas considerou que executar a morte de Cristo era uma tarefa de tal importância que não deveria ser delegada a um poder menor: ele próprio se encarregaria do assunto. No entanto, ele empreendeu a tarefa para sua própria derrota. O pacto entre Judas e os líderes religiosos foi facilmente estabelecido. Eles foram consumidos pela inveja e Judas pelo amor ao dinheiro.
Durante muitos séculos a Páscoa foi observada com maior ou menor fidelidade, e agora, em seu pleno significado, era observada pela última vez. Em vinte e quatro horas, a luz da Páscoa empalideceu diante do brilho daqu’Ele a Quem ela representava, quando o verdadeiro Cordeiro de Deus morreu na cruz. É um fato notável que a última vez em que foi celebrada em seu pleno significado, estava presente para participar dela aqu’Ele que a instituiu – o Homem Perfeito e Santo, que era o Companheiro de Jeová. Ele ordenou que a Páscoa fosse preparada, e Ele decidiu o exato lugar onde deviam comê-la. O tempo, a maneira, o lugar, eram todos da Sua designação. A escolha não está com os discípulos, mas com Ele, como mostra o versículo 9.
A presciência do Senhor é notavelmente manifestada no versículo 10. Levar a água era tarefa das mulheres; um homem carregando um cântaro de água era uma visão muito incomum. No entanto, Ele sabia que haveria um homem realizando esse ato incomum e que Pedro e João o encontrariam quando entrassem na cidade. Ele sabia também que o “dono da casa” (ARA) responderia à mensagem enviada pelos discípulos em nome do “Mestre”. Sem dúvida, ele reconhecia o Mestre como sendo seu Mestre; em outras palavras, ele era um dos piedosos em Jerusalém que reconhecia Suas reivindicações, e o Senhor sabia como colocar Sua mão sobre ele. Este homem teve o privilégio de mobiliar um aposento para o uso daqu’Ele que não tinha aposento próprio, e quando a hora chegou, assentou-Se com Seus discípulos.
No relato que Lucas faz, a distinção entre a ceia pascal e a ceia que Ele instituiu é muito clara; os versículos 15-18 falam de uma e os versículos 19-20 de outra. As palavras do Senhor quanto à Páscoa indicam o encerramento daquela velha ordem de coisas. Seus sofrimentos significariam o seu cumprimento, e quando um remanescente poupado de Israel entra finalmente na bem-aventurança do Milênio, será como protegido pelo sangue de Cristo. Quanto ao cálice (v. 17), isso não parece ter sido parte da Páscoa instituída por meio de Moisés, e o Senhor aparentemente não bebeu dele. Em vez disso, Ele indicou que Seu dia de regozijo, simbolizado pelo fruto da videira, só seria alcançado no reino vindouro.
Então instituiu a Sua própria ceia em memória de Sua morte; o pão simbolizando Seu corpo, o cálice de vinho, Seu sangue derramado. O relato é muito breve e, para o significado completo de tudo isso, temos que ir a 1 Coríntios 10 e 11. Recordação foi o que o Senhor enfatizou no momento, e em vista de Sua longa ausência, podemos ver a importância disso. Através dos séculos, o memorial de Sua morte esteve conosco e o testemunho permanente de Seu amor.
Os versículos que se seguem (vs. 21-27) testemunham a loucura e a fraqueza que se encontravam entre os discípulos. A mão do traidor estava sobre a mesa, e Ele sabia disso, embora o resto dos discípulos não o percebesse. Havia também conflitos entre eles, cada um desejando o lugar mais importante, e isso exatamente quando seu grande Mestre estava prestes a tomar o lugar mais baixo. Tal é, infelizmente, o coração do homem, até mesmo dos santos. No entanto, serviu para destacar muito claramente a diferença fundamental entre o discípulo e o mundo. A grandeza mundana é expressa e mantida tomando-se um lugar de senhor: a grandeza Cristã é encontrada ao tomar o lugar de servo. Nessa grandeza, o próprio Jesus era preeminente. Poucas palavras são mais tocantes do que isso – “Eu porém, entre vós Sou como aqu’Ele que serve”. Essa tinha sido Sua vida de perfeita graça; e dessa forma, em suprema medida, Sua morte estava prestes a acontecer.
Também é muito tocante observar como Ele falou aos discípulos nos versículos 28-30. Eles eram de fato insensatos, e seu espírito se distanciava muito do d’Ele; mesmo assim, com que benevolência que Ele trouxe à luz o bom traço que os caracterizara. Eles estavam firmemente ligados a Ele. Apesar de suas tentações, culminando em Sua rejeição, eles continuaram com Ele. Isso Ele nunca esqueceria, e haveria uma recompensa abundante no reino. No dia vindouro Ele vai tomar o reino para Seu Pai, e o toma por seus santos, e estes Seus discípulos terão um lugar muito especial de proeminência. À luz desse gracioso pronunciamento, eles certamente devem ter percebido quão mesquinhas e repugnantes haviam sido suas disputas anteriores por uma posição de destaque. E, talvez possamos sentir o mesmo.
Em seguida, nos versículos 31-34, vem a advertência especial do Senhor a Pedro. Neste momento ele estava pensando e agindo na carne, então Jesus usou seu nome de acordo com a carne, e ao falar seu nome repetidamente transmitiu a gravidade de Sua advertência. A confiança própria marcava Pedro, assim como o desejo de preeminência, e isso abriu a porta a Satanás; contudo, a intercessão do Senhor prevaleceria, e havia trigo ali e não apenas palha. Este trigo permaneceria quando a peneiração terminasse.
Os quatro versículos que se seguem, 35-38, foram dirigidos a todos os discípulos. Eles tinham que testemunhar que possuíam uma suficiência absoluta como fruto de Seu poder, embora enviados sem recursos humanos; e Ele notificou que com Sua morte e partida outra ordem de coisas sobreviria. Os homens O contariam entre os transgressores deste mundo, mas as coisas concernentes a Ele se cumpririam em outro mundo. Ele seria exaltado à glória, e Seus discípulos foram deixados como Suas testemunhas, tendo que retomar as circunstâncias cotidianas deste mundo. Sua resposta a essas palavras mostrou que provavelmente estavam perdendo o espírito do que Ele disse, agarrando-se a um detalhe literal; então, por enquanto, Ele deixou isso de lado.
Até agora tem sido o trato de Seu amor com os Seus; agora vemos a perfeição de Sua Humanidade manifestada no Getsêmani. Ele enfrentou, como diante do Pai, toda a amargura daquele cálice de juízo que Ele tinha de beber, e Sua total perfeição é vista pelo fato de que, embora tendo Se retraído dele, devotou-Se ao cumprimento da vontade do Pai, o que quer que isso Lhe custasse. Lucas, distinto dos outros evangelistas, nos fala da aparição do anjo para fortalecê-Lo. Isso enfatiza a realidade da Sua Humanidade, de acordo com o caráter especial deste evangelho. Assim também o Seu suor, sendo como grandes gotas de sangue, é mencionado apenas neste evangelho. O horror daquilo que estava diante d’Ele foi experimentado em comunhão com o Pai.
Com o versículo 47 as últimas cenas começam; e agora tudo é calma e graça com o Senhor: tudo é confusão e agitação com Seus amigos, os Seus adversários, e até com os Seus juízes. A comunhão no jardim levou à calma na hora da grande provação. Judas alcançou as alturas da hipocrisia ao trair seu Mestre com um beijo. Pedro usou uma daquelas duas espadas a que eles acabaram de se referir, em violência imprudente e incontrolada. O que Pedro fez em sua violência o Senhor prontamente desfez em Sua graça. A violência deveria ser deixada para a multidão com as espadas e varapaus. Era a hora deles e a hora em que o poder das trevas deveria ser exibido. Nesse sombrio cenário, o Senhor mostrou Sua graça.
O relato da queda de Pedro segue. O caminho para isso fora preparado por seu desejo anterior pelo primeiro lugar, sua confiança própria e sua ação violenta. Agora ele seguia de longe, e logo se achou entre os inimigos de seu Mestre. Satanás estabeleceu a armadilha com plena habilidade. Primeiro a criada e depois os outros dois empregados pressionaram sua identificação com Ele, levando-o a negações que aumentavam em ênfase; embora Lucas não nos diga que ele tenha praguejado e jurado. Isso afinal era incidental; o essencial era que ele negou seu Senhor.
Precisamente naquele momento, exatamente como Jesus havia previsto, o galo cantou; e então o Senhor Se virou e olhou para Pedro. Podemos não saber exatamente o que esse olhar transmitiu, mas isso falou com tal intensidade ao discípulo caído que ele saiu de entre os inimigos de seu Mestre com lágrimas amargas. Judas estava cheio de remorso, mas não lemos que ele chorou. O choro amargo de Pedro foi uma testemunha de que, afinal, ele amava seu Senhor e que sua fé não iria falhar. A oração e o olhar estavam começando a provar sua eficácia.
Este evangelho deixa claro que o julgamento de Jesus foi dividido em quatro partes. Primeiro, houve o exame perante os principais sacerdotes e escribas, enquanto procuravam algum pretexto plausível para condená-Lo à morte. Esse relato preenche os versículos finais do capítulo, e é feito com brevidade. É muito claro, no entanto, que eles O condenaram por Sua própria confissão clara de Quem Ele era. Eles O desafiaram a ser o Cristo, e a resposta do Senhor mostrou que Ele sabia que eles estavam firmes em sua incredulidade e em sua determinação de condená-Lo. Ainda assim, Ele afirmou ser o Filho do Homem, que deveria empunhar o próprio poder de Deus, e isso eles interpretaram como significando que Ele também deveria afirmar ser o Filho de Deus. De fato, Ele era, e Sua resposta, “Vós dizeis que Eu Sou”, foi um enfático “sim”. Ao afirmar ser Ele o Cristo, o Filho do Homem, o Filho de Deus, eles O condenaram à morte,

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