sábado, 6 de julho de 2019

LUCAS 23

LUCAS 23




Então, na segunda parte do Seu julgamento, O levaram a Pilatos para obterem a sanção romana para a execução desta sentença. Aqui eles mudaram completamente de terreno e O acusaram de ser reacionário e rival de César. Jesus confessou ser o Rei dos judeus, mas Pilatos declarou que Ele não tinha culpa alguma. Isso pode parecer uma declaração surpreendente, mas Marcos nos dá uma visão do que acontecia nos bastidores quando nos conta que Pilatos sabia que o ódio feroz dos líderes religiosos era inspirado pela inveja. Por isso, ele começou a recusar a ser a ferramenta de seu rancor, e se aproveitou da ligação do Senhor com a Galileia para enviá-Lo a Herodes. A acusação, “Ele alvoroça o povo” (ARA), era de fato verdadeira; mas Ele os incitava a Deus e não contra César.
Então, terceiro, houve a breve aparição do Senhor diante de Herodes, que estava ansioso para vê-Lo, esperando testemunhar algo sensacional. Aqui novamente os principais sacerdotes e escribas O acusavam veementemente, mas na presença daquele homem perverso, a quem Ele havia anteriormente caracterizado como “essa raposa”, Jesus não respondeu nada. Seu silêncio cheio de dignidade só levou Herodes e seus soldados a abandonarem toda a pretensão de administrar a justiça e desceram ao escárnio e à ridicularização. Na Sua humilhação foi tirado o Seu julgamento.
Por isso Herodes devolveu-O a Pilatos, e aqui começou a quarta e última etapa de Seu julgamento. Mas antes de nos contar sobre os esforços adicionais de Pilatos para aplacar os acusadores e libertar Jesus, Lucas registra como ele e Herodes deram um fim à inimizade que tinham entre si ao condená-Lo naquele dia. A mesma tragédia tem sido repetida desde então. Homens de caráter e visão completamente diferentes encontraram um ponto de unidade em sua rejeição a Cristo. Herodes foi entregue aos seus prazeres e era completamente indiferente: Pilatos, embora possuísse algum senso do que era correto, era um oportunista e, portanto, pronto para fazer o que era errado em prol da popularidade; mas eles chegaram a um consenso aqui.
A história das cenas finais do julgamento é dada com brevidade nos versículos 13-26. Nem uma palavra dita por nosso Senhor é registrada: tudo é apresentado como uma questão entre Pilatos e o povo instigado pelos principais sacerdotes; ainda assim, certas coisas se destacam muito claramente. Em primeiro lugar, dá-se abundante testemunho de que Jesus não tinha culpa alguma. Pilatos afirmou isso durante o interrogatório anterior (v. 4), e agora ele repete duas vezes (vs. 14 e 22), e afirma pela quarta vez como sendo o veredicto de Herodes (v. 15). Deus cuidou de que houvesse testemunho abundante e oficial disso.
Então a fúria irracional cega de Seus acusadores é abundantemente manifestada. Eles simplesmente clamaram por Sua morte. Mais uma vez, a escolha que fizeram, como alternativa à Sua libertação, destaca-se com clareza cristalina. Duas vezes nestes versículos Barrabás é identificado com sedição e homicídio; isto é, ele era a personificação viva das duas formas nas quais o mal é tão frequentemente apresentado nas Escrituras – corrupção e violência; ou, em outras palavras, vemos o poder de Satanás operando, tanto como uma serpente assim como um leão que ruge. Por fim, vemos que a condenação de Jesus foi o resultado da fraqueza do juiz, que “entregou Jesus à vontade deles”. Ele representava o autoritário poder de Roma, mas ele abdicou em favor da vontade do povo.
As cenas da crucificação ocupam os versículos 27-49. Ficamos impressionados com o fato de que por todo o acontecimento, nada transcorreu de maneira comum. Tudo era incomum – sobrenatural, ou chegando ao sobrenatural. Era bastante comum as mulheres que faziam lamentações nos lutos aparecerem nessas ocasiões, mas é totalmente incomum que lhes seja dito que chorem por si mesmas, ou que ouçam uma profecia de um castigo vindouro. O próprio Jesus era o “madeiro verde”, de acordo com o Salmo 1, e talvez Ele estivesse Se referindo à parábola de Ezequiel 20:45-49. Nessa escritura, Deus prediz um fogo sobre cada árvore verde e cada árvore seca. O julgamento caiu sobre o “madeiro verde” quando Cristo sofreu por nossa causa. Quando o fogo irromper na árvore seca dos judeus apóstatas, não se apagará.
Então a oração de Jesus enquanto eles O crucificavam era totalmente inesperada e incomum. Ele desejava que o Pai, com efeito, não considerasse o pecado do povo como um homicídio voluntarioso, para o qual não havia perdão, mas como homicídio não intencional, para que ainda pudesse haver uma cidade de refúgio, mesmo para Seus homicidas. Uma resposta a essa oração foi vista cerca de cinquenta dias depois, quando Pedro em Jerusalém pregou a salvação por meio do Cristo ressurreto, e 3.000 almas correram para o refúgio. A oração era incomum porque era o fruto de compaixões divinas tais como nunca havia sido revelado antes.
As ações das várias pessoas envolvidas em Sua crucificação eram incomuns. Os homens não costumam provocar e insultar até mesmo os piores criminosos que estão sofrendo pena de morte. Aqui todas as classes o fizeram, até mesmo príncipes, soldados e um dos malfeitores que sofreu ao Seu lado. O poder do diabo e das trevas tomou conta de suas mentes.
A inscrição de Pilatos foi inesperada. Tendo O condenado como um falso pretendente à realeza entre os judeus, ele escreveu um título proclamando-O como o Rei dos judeus e, como mostra outro evangelho, ele se recusou a alterá-lo. Isto era Deus prevalecendo sobre tudo.
A conversão repentina do outro ladrão era totalmente sobrenatural. Ele condenou a si mesmo e justificou a Jesus. Tendo justificado a Ele, ele O reconheceu como Senhor e proclamou – praticamente, embora não em tantas palavras – sua crença de que Deus O ressuscitaria dos mortos, a fim de estabelecê-Lo em Seu reino. Ele cumpriu as duas condições de Romanos 10:9, simplesmente crendo que Deus O ressuscitaria dos mortos, ao invés de crer, como nós, que Deus O ressuscitou dos mortos. A fé do ladrão que estava morrendo era uma pedra preciosa de primeira ordem, ao lado da qual a nossa fé hoje perde seu brilho. É muito mais notável crer que algo deve ser feito, quando ainda não tenha sido feito, do que crer que algo está feito, quando ele já foi feito. E, além disso, era muito incomum que um malfeitor quisesse ser lembrado pelo Rei, quando o Seu reino fosse estabelecido. Os malfeitores costumam fugir para as sombras e desejam ser esquecidos pelas autoridades. Seu desejo de ser lembrado mostra sua fé na graça do Senhor sofredor igualmente sua fé em Sua glória vindoura.
A resposta de Jesus à oração do ladrão foi realmente maravilhosa e inesperada! Não apenas no reino vindouro, mas naquele mesmo dia, ele experimentaria a graça que alcançava além da morte, colocando seu espírito resgatado em companhia de Cristo no paraíso. Ora, o paraíso e o terceiro céu são equiparados em 2 Coríntios 12:2-4. Essas palavras do Senhor foram a primeira revelação definida do fato de que, imediatamente após a morte, os espíritos dos santos estão em consciente bem-aventurança com Cristo.
Se tudo era incomum, no lado humano, quando Jesus morreu, havia também manifestações sobrenaturais vindas da mão de Deus, das quais falam os versículos 44 e 45. As três horas mais brilhantes do dia foram escurecidas, pelo Sol sendo velado. Havia algo muito apropriado nisso, pois o verdadeiro “Sol da Justiça” estava levando nosso pecado naquele momento. Também o véu do templo foi rasgado por uma mão divina, significando que o dia do sistema do templo visível tinha acabado, e o caminho para o Santo dos santos estava a ponto de se manifestar – veja Hebreus 9:8. Nosso verdadeiro “Sol” foi velado por um momento, suportando nosso julgamento, para que não houvesse nenhum véu entre nós e Deus.
Lucas não registra o clamor do Salvador quanto ao abandono divino, proferido sobre o tempo em que as trevas passavam, nem o grito triunfante: “Está consumado”, embora ele registre que Ele “clamou em alta voz” (ARA). E então Suas palavras finais foram: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Nestas palavras finais na cruz, vemos aqu’Ele que, desde o princípio, foi marcado pela oração e submissão à vontade de Deus, concluindo Seu caminho como o Homem perfeito e dependente. Tendo dito isto, Ele entregou o Seu espírito; ainda assim, vemos que Ele é mais do que Homem, pois em um momento havia a voz alta, Seu vigor intacto e no momento seguinte Ele estava morto. Em todos os sentidos, Sua morte foi sobrenatural.
Testemunho disso foi prestado pelo centurião que testemunhou a cena em razão de seu dever oficial. Mesmo as multidões atraídas pela curiosidade mórbida foram tomadas por um alarmante temor e pressentimento, e aqueles que eram Seus amigos recuaram-se à distância. O centurião tornou-se uma quarta testemunha da perfeição de Jesus, unindo-se a Pilatos, Herodes e ao ladrão moribundo.
Os escritos proféticos haviam dito: “Afastaste para longe de Mim amigos e companheiros” (Sl 88:18), mas eles também disseram: “Designaram-Lhe a sepultura ... mas com o rico esteve na Sua morte” (Is 53:9 – ARA). Se o versículo 49 nos dá o cumprimento de um, os versículos 50-53 nos dão o cumprimento do outro. Em toda emergência Deus tem em reserva um instrumento para realizar Seu propósito e cumprir Sua palavra. José é mencionado em todos os quatro evangelhos, e João nos informa que até esse ponto ele havia sido um discípulo em oculto por medo dos judeus. Agora ele age com ousadia quando todos os outros se acovardaram, e o novo túmulo imaculado está disponível para o corpo sagrado do Senhor. Nem mesmo pelo mais mínimo contato Ele “viu a corrupção”. Os homens pretendiam o contrário, mas Deus cumpriu serenamente a Sua palavra.

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