terça-feira, 2 de julho de 2019

LUCAS 11

LUCAS 11



Novamente encontramos o Senhor em oração, e isso despertou em Seus discípulos o desejo de ser ensinados a orar. Como ainda não possuíam o Espírito como temos hoje e, portanto, orar “no Espírito Santo” (Jd 20), e a ajuda e intercessão do Espírito, da qual Romanos 8:26-27, fala, não poderiam ser conhecidos por eles como podemos conhecer. Nesse tempo, o Senhor era seu “Consolador” e Guia exterior: nós temos “outro Consolador”, que é interior. Em resposta, o Senhor deu-lhes a oração padrão e acrescentou uma ilustração para reforçar a necessidade da importunação [desinibição – JND]. Já que um homem vai se levantar à meia-noite diante da sincera solicitação de um amigo, poderemos bem vir com confiança a Deus.
O Senhor instruiu Seus discípulos a se dirigirem a Deus como Pai e as garantias que Ele deu no versículo 10 se encaixam nisso, assim como as declarações dos versículos 11-13. O Pai no céu não deve ser concebido como menos interessado e menos considerado do que um pai terreno. Ele não dará o que é inútil ou prejudicial em resposta a pedidos de comida necessária. Nem podemos acrescentar que Ele dará o que é inútil ou prejudicial se o desejarmos e pedirmos. Muitas orações não respondidas são, sem dúvida, por esse motivo.
O homem em sua condição má sabe dar boas dádivas a seus filhos; o Pai celestial dará àqueles que Lhe pedirem o maior de todos os dons – o Espírito Santo. Aqui vemos o Senhor em Seu ensinamento conduzindo os desenvolvimentos que estavam prestes a acontecer. O Espírito Santo não foi dado até que Jesus foi glorificado, como sabemos em João 7:39; mas quando foi dado, Ele encontrou um grupo de homens e mulheres que perseveravam em oração e súplicas, como Atos 1:14 registra. Vivemos no dia em que o Espírito foi dado; e assim podemos nos regozijar no fruto da Sua presença, bem como no poder da Palavra de Deus e da oração.
No parágrafo seguinte (v. 14-28) temos a rejeição definitiva da graça manifestada, e do próprio Senhor que a exibiu; o que leva o Senhor a desvendar o terrível resultado dessa rejeição e também a enfatizar ainda mais a importância da obediência à Palavra.
Tendo sido expulso o demônio mudo, a mudança no homem que havia sido sua vítima foi impressionante e inegável. Entretanto, muitos do povo adotaram o plano de difamar o que não podiam negar. O comentário sobre belzebu não é atribuído aos fariseus, como é em Mateus. Sem dúvida, eles instigaram, mas as pessoas comuns os apoiaram nisso, como Lucas registra aqui. Outros, fechando os olhos para os muitos sinais já dados, tiveram o descaramento de exigir um sinal do céu. Em Sua resposta, Jesus mostrou primeiramente que sua acusação era totalmente irracional: envolvia o absurdo de Satanás agindo contra si mesmo. Em segundo lugar, Ele mostrou que, se fosse verdade, a acusação deles ricochetearia sobre a cabeça de seus filhos, se não em suas próprias cabeças.
Mas em terceiro lugar, e o mais importante de tudo, Ele deu a verdadeira explicação do que estava fazendo. Ele chegou à cena mais forte do que Satanás. Antes de Sua vinda, Satanás havia mantido seus cativos em inabalável segurança. Agora o mais Forte estava liberando esses cativos. Sua vinda apresentou um teste para todos: eles estavam com Ele ou contra Ele. Não estar com Ele era o mesmo que estar contra Ele, pois não poderia haver neutralidade. Os homens podem parecer estar ajuntando, mas se não for com Ele, isso seria apenas uma dispersão. Este é um ponto que fazemos bem em notar. Há uma grande necessidade hoje de reunir os homens em todos os tipos de associações e grupos; mas se não for com Cristo, de forma central e dominante, é um processo de dispersão e, finalmente, se manifestará como tal.
Os versículos 24-26 são evidentemente proféticos. Naquele momento, o espírito imundo de sua antiga idolatria havia saído de Israel, mas, embora estivessem “varridos e adornados” de maneira exterior, estavam empenhados em recusar o Enviado de Deus para ocupar a casa. Como resultado, o velho espírito impuro voltaria com os outros piores do que ele e, assim, seu estado seria pior do que o inicial. Essa palavra de Jesus será cumprida quando o Israel incrédulo receber o anticristo nos últimos dias.
No entanto, nem todos estavam recusando-O. Uma mulher da multidão percebeu algo de Sua excelência e pronunciou Sua mãe ser abençoada. Isso Ele não negou, pois a primeira palavra de Sua resposta foi “antes”, indicando assim algo ainda mais abençoado. A mais verdadeira bênção para nós está no recebimento e guarda da Palavra de Deus. O elo espiritual formado pela Palavra é mais íntimo e duradouro do que qualquer elo formado na carne. O Senhor estava conduzindo os pensamentos de Seus discípulos a essas verdades espirituais, e o ouvir a Palavra era essa parte boa, como acabamos de ver no caso de Maria.
O Senhor passou a falar da insensibilidade que caracterizava o povo de Seus dias. Eles estavam pedindo um sinal como se nenhum sinal tivesse sido dado a eles. Apenas um sinal permaneceu para eles, o que Ele fala como “o sinal do profeta Jonas”. Jonas pregou para os ninivitas, mas ele também era um sinal para eles, visto que apareceu entre eles como alguém que surgiu do que parecia ser morte certa. O Filho do Homem estava prestes a entrar na morte e ressuscitar, e esse foi o maior de todos os sinais: além disso, Ele estava mostrando entre eles sabedoria muito maior do que a de Salomão e Sua pregação foi muito além da de Jonas. Por que as pessoas não foram comovidas?
Não foi porque não havia luz brilhando. Os homens não acendem uma candeia para escondê-la, como diz o versículo 33. O Senhor havia chegado ao mundo como a grande Luz e Seus raios estavam brilhando sobre os homens. O que estava errado não era com a luz, mas com os olhos dos homens. Isso é enfatizado nos versículos 34-36. O Sol é a luz de nossos corpos objetivamente: mas nossos olhos são luz para nós subjetivamente. Se o Sol se apagasse, haveria escuridão universal, mas se meu olho se apagasse, haveria escuridão absoluta para mim apenas. Se minha faculdade de ver espiritualmente é má, minha mente está cheia de trevas: se ela é simples, tudo é luz. Em outras palavras, o estado daquele sobre quem a luz brilha é de grande importância. O estado do povo estava errado, daí sua insensibilidade à luz que brilhava em Cristo.
Mas, se as pessoas não recebessem a luz para a  bênção delas, o Senhor pelo menos estaria apontando o holotote da verdade sobre o estado delas. Ele começou com os fariseus, e o resto do capítulo nos dá a Sua acusação sobre eles. O fariseu que O convidou era fiel ao tipo que representava; um crítico e obcecado com detalhes cerimoniais. A hora chegou para o crítico ser criticado e exposto. Nada poderia ser mais incisivo do que as palavras do Senhor. Ao lê-las, podemos ter uma ideia de como os homens serão examinados no dia do julgamento.
A hipocrisia deles é o ponto dos versículos 39-41. Limpeza ostensiva onde os olhos dos homens alcançam, e imundície onde eles não enxergam. E, além disso, o ódio egoísta estava sob a aparente piedade deles. Estavam cheios de “rapina” ou “saque”. A palavra “dai”, no versículo 41, está em contraste com isso. Se eles se tornassem doadores, ao invés de saqueadores das outras pessoas, todas as coisas seriam limpas para eles, tanto por dentro quanto por fora. Uma mudança tão radical como essa implicaria uma verdadeira conversão.
O versículo 42 indica o seu julgamento pervertido. Eles se especializaram em coisas que não eram nem importantes nem caras e ignoravam as coisas da maior importância. O versículo 43 mostra que o amor à notoriedade e a bajulação dos homens os consumiam. Por isso, tornaram-se insuspeitados centros de contaminação para os outros, como o versículo 44 indica. Eles prejudicavam aos outros, assim como a si mesmos. Uma acusação terrível, de fato, mas que, infelizmente, se aplica em medidas variadas em todos os momentos àqueles que são promotores de uma religião meramente exterior e cerimonial.
Nesse ponto, um dos doutores da lei protestou que essas palavras também eram um insulto a ele próprio. Isso apenas levou a que a acusação fosse pressionada mais de perto contra ele mesmo. Esses mestres da lei ocupavam-se em colocar cargas sobre os outros. Eles legislavam para os outros e friamente ignoravam a lei para si mesmos. Além disso, eles foram marcados por rejeitarem a Palavra de Deus e dos profetas que a trouxeram, embora depois que os profetas foram mortos, eles os honraram com a construção de seus túmulos, esperando obter o prestígio de seus nomes agora que suas palavras não eram mais provadas por eles. Que artifício astuto esse! Mas não desconhecido mesmo em nossos dias. É fácil elogiar abertamente, um século depois de sua morte, um homem que foi ferozmente combatido durante sua vida de testemunho. As palavras do Senhor implicam que o que seus pais haviam feito seria feito novamente pelos filhos. A geração a quem Ele falava não era culpada apenas do sangue dos profetas anteriores, mas do próprio Filho de Deus.
Finalmente, no versículo 52, encontramos que, assim como os fariseus contaminavam outras pessoas (v. 44), os doutores da lei tiraram a chave do conhecimento, e faziam a obra de Satanás de impedir que outros entrassem no verdadeiro conhecimento de Deus. Eles mataram os profetas, e bloquearam o caminho da vida.
O Senhor evidentemente proferiu estas tremendas denúncias com calma de espírito. O melhor dos homens teria falado de forma diferente. Por isso, vem a nós a determinação: “irai-vos e não pequeis” (Ef 4:26). Facilmente pecamos por estarmos irados contra o pecado. Ele não precisava de tal comando. Seus oponentes pensaram que tinham apenas que provocá-Lo ainda mais e Ele iria facilmente sucumbir. Ele não fez tal coisa como previram, como mostra o próximo capítulo.

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