quinta-feira, 20 de junho de 2019

LUCAS 4

LUCAS 4




Nosso capítulo se inicia com Ele voltando do Seu batismo, cheio do Espírito Santo. Mas antes de começar Seu serviço, Ele deve ser tentado por quarenta dias pelo diabo. O Espírito levou-O para esta prova, e aqui vemos o contraste glorioso entre o Segundo Homem e o primeiro.
Quando o primeiro homem foi criado, Deus pronunciou que tudo era muito bom, mas Satanás entrou imediatamente em cena, tentou o homem e o arruinou. O Segundo Homem apareceu, e a voz do Pai pronunciou Sua excelência; então novamente Satanás entra em cena com prontidão, mas desta vez ele encontra o Homem, cheio do Espírito Santo, que é imune a suas artimanhas. Quando o primeiro homem caiu, ele não conhecia as ânsias da fome, pois habitava no fértil jardim plantado pela mão do seu Criador. O Segundo Homem vitoriosamente Se manteve, embora o jardim tivesse se transformado em um deserto e Ele estivesse faminto.
Lucas evidentemente nos relata as tentações na ordem moral e não histórica. Mateus nos dá a ordem histórica e nos mostra que o fim da tentação foi quando o Senhor ordenou que Satanás se retirasse, conforme registrado no versículo 8 de nosso capítulo. A ordem aqui concorda com a análise que João faz do mundo em 1 João 2. A primeira tentação foi evidentemente projetada para apelar à concupiscência da carne, a segunda à concupiscência dos olhos e a terceira à soberba da vida. Mas tais concupiscências ou orgulho não tinham lugar em nosso Senhor, e as três provas serviram apenas para revelar Sua perfeição em seus detalhes.
O Senhor Jesus tornou-Se verdadeiramente um Homem, e em resposta à primeira tentação Ele tomou o lugar apropriado do homem em total dependência de Deus. Assim como a vida natural do homem depende de se alimentar do pão, sua vida espiritual depende de se alimentar da Palavra de Deus e sua obediência a ela. Em resposta à segunda tentação foi vista Sua dedicação à Deus de todo o Seu coração. Poder e glória e domínio em si mesmos não era nada para Ele; Ele estava totalmente pronto para a adoração e serviço a Deus. Ele enfrentou a terceira tentação, na qual Ele foi instigado a colocar a fidelidade de Deus à prova, como Sua inabalável confiança em Deus. O grande adversário não encontrou nenhum ponto fraco n’Ele. Ele confiava em Deus sem testá-Lo.
As três características manifestadas de modo tão proeminente – dependência, devoção, confiança – são aquelas que marcam o Homem perfeito. Elas são muito distintamente vistas no Salmo 16, que pelo Espírito de profecia expõe Cristo em Suas perfeições como Homem.
Tendo sido testado por Satanás e triunfado sobre ele no poder do Espírito Santo, o Senhor Jesus retornou à Galileia para começar Seu ministério público no poder do mesmo Espírito, e Sua primeira declaração escrita está na sinagoga de Nazaré, onde Ele havia sido criado. Ele leu as palavras iniciais de Isaías 61, parando no ponto em que a profecia passa do primeiro advento para o segundo. “O dia da vingança do nosso Deus” ainda não tinha chegado, mas parando no ponto em que Ele o fez, onde em nossa versão apenas aparece uma vírgula (ARA), Ele pôde começar Seu sermão dizendo: “Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos”. Ela apresentava-O como o Ungido pelo Espírito de Deus, em Quem a plenitude da graça de Deus devia se fazer conhecida aos homens.
Esta apresentação de Si mesmo parece ser característica do evangelho de Lucas. Embora Ele fosse Deus na plenitude de Sua Pessoa, ainda assim Ele vem diante de nós como o Homem dependente, cheio do Espírito Santo, falando e agindo no poder do Espírito, e derramando graça para os homens. O que maravilhou os ouvintes em Nazaré foram “as palavras de graça que saíram da Sua boca”. A lei de Moisés tinha sido constantemente repetida dentro das paredes da sinagoga, mas nunca a graça fora assim proclamada ali. Mas não era suficiente proclamar a graça em abstrato: Ele passou a ilustrar a graça para que as pessoas pudessem perceber o que isso envolvia. Ele citou dois exemplos de suas próprias Escrituras, onde a bondade de Deus havia sido demonstrada, e em ambos os casos os recebedores da graça eram dos gentios pecadores. A viúva sidônia estava em uma situação desesperadora – “sem força”. O soldado sírio estava entre os “inimigos” de Deus e do Seu povo. Assim, os dois casos ilustram muito bem Romanos 5:6-10, pois a mulher foi salva e sustentada, e o homem foi purificado e reconciliado.
Esta bela apresentação da graça em sua obra prática não adequou o povo de Nazaré. Em resumo, palavras graciosas eram todas muito agradáveis, mas quando perceberam que a graça não pressupõe nada além do demérito naqueles que a recebem, eles se levantam em orgulhosa rebelião e grande fúria, e teriam matado Jesus se Ele não tivesse escapado pelo meio deles. As boas coisas que a graça traz eram suficientemente aceitáveis, mas eles não as queriam no terreno da graça, uma vez que isso supunha que eles não eram melhores que os gentios pecadores. A mente moderna provavelmente aprovaria a graça sendo oferecida na favela, enquanto a consideraria uma afronta se pregada na sinagoga. A mente judaica nem sequer ouviria falar da graça ser exercida na favela!
Assim, de uma maneira muito definida, houve uma rejeição da graça logo na primeira vez em que foi proclamada, e isto não era em Jerusalém entre os escribas e fariseus, mas nas partes mais humildes da Galileia, no próprio lugar onde Ele havia sido criado. Sua familiaridade com Ele agia como um véu sobre seus corações.
À luz de tudo isso, a seção de conclusão do capítulo é muito bonita. Quando os homens oferecem uma gentileza no espírito da graça, e isso é rejeitado com contundência e violência, eles são ofendidos, e se afastam com desgosto. Não foi assim com Jesus. Se fosse assim, onde deveríamos estar? Ele retirou-Se de Nazaré, mas passou para Cafarnaum e ali pregou. Seu ensinamento os surpreendeu, sem dúvida por causa da nova nota de graça que o caracterizou, e também por causa da autoridade divina com a qual estava revestida.
Na sinagoga Ele entrou em conflito com os poderes das trevas. A sinagoga era algo morto, por isso homens possuídos por demônios poderiam estar presentes sem serem detectados. Mas assim que o Senhor apareceu o demônio se revelou, e também mostrou que ele sabia Quem Ele era, mesmo que o povo estivesse em ignorância. Jesus era realmente o Santo de Deus, mas em vez de aceitar o testemunho do demônio, Ele o repreendeu e expulsou-o de sua vítima. Assim Ele provou o poder da Sua Palavra.
No versículo 36 temos tanto autoridade como poder, a última palavra que significa força dinâmica. No versículo 32 a palavra é realmente autoridade. Então, temos a graça da Sua Palavra no versículo 22, seguida da autoridade da Sua Palavra e do poder da Sua Palavra. Não é de admirar que o povo estivesse dizendo: “Que Palavra é essa!” E nós, que recebemos neste dia o evangelho da graça de Deus, temos igual motivo para tal exclamação. Que maravilhas da regeneração espiritual estão sendo produzidas pelo evangelho hoje!
Da sinagoga Ele passou para a casa de Simão onde a doença estava dominando, mas que desapareceu diante de Sua Palavra. E então, ao anoitecer, veio aquela maravilhosa manifestação do poder de Deus na plenitude da graça. Todos os tipos de doenças e enfermidades foram trazidos à Sua presença e houve libertação para todos. Ele “punha as mãos sobre cada um deles e os curava”. Assim, Ele exemplificou a graça de Deus, pois fluir para todos é exatamente o caráter da graça, independentemente do mérito ou demérito. Da parte de Deus, é oferecida livremente e para todos. O versículo 40 inspirou o hino:

Quando se põe o Sol ao entardecer,
e certamente todos nos regozijamos em cantar,
Teu toque ainda tem seu antigo poder,
Nenhuma palavra de Ti pode sem fruto ficar.

Mas, por mais belo que esse hino seja, a realidade mencionada no versículo 40 é muito mais adorável. Tal é a graça do nosso Deus.
E a graça que foi exibida naquela noite memorável não foi esgotada pela sua manifestação. Ele saiu para outro lugar a pregar o reino de Deus – um reino a ser estabelecido não com base nas obras da lei, mas sobre a base que seria colocada pela graça como fruto de Sua própria obra.

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