quinta-feira, 4 de julho de 2019

LUCAS 14

LUCAS 14




Nos versículos finais do capítulo anterior, o Senhor aceitou Sua rejeição e predisse seus resultados para Jerusalém; contudo, Ele não cessou Suas atividades em graça nem Seus ensinamentos da graça, como mostra a parte inicial deste capítulo. Os fariseus desejavam usar a lei do sábado deles como um cordão com o qual amarrariam Suas mãos de misericórdia para impedi-las de agir. Ele quebrou a corda e mostrou que no mínimo teria tanta misericórdia do homem afligido quanto eles costumavam mostrar aos seus animais domésticos. Sua graça abundava acima de todos os seus preconceitos legais.
No versículo 7, Lucas retoma o relato de Seus ensinamentos, e não encontramos qualquer registro adicional de Suas obras até chegarmos ao capítulo 17:11. Em primeiro lugar, o Senhor enfatizou o comportamento que deve caracterizar aqueles que são os recipientes da graça. A natureza humana caída é agressiva e age com autoafirmação, mas a graça só pode ser recebida à medida que a humildade é manifestada. O convidado a um casamento vai à festa sob o terreno de generosidade e não de direito ou mérito, e deve se comportar de acordo com isso. Pode-se notar que na sociedade mundana de hoje[1] a ousada autoafirmação não seria considerada um bom modelo. Reconhecemos isso e é um testemunho do modo como os ideais Cristãos ainda prevalecem. Nos círculos pagãos, essa agressividade seria aplaudida, e veremos isso cada vez mais se manifestando à medida que os ideais pagãos prevalecerem.
A humilhação da exaltação própria e a exaltação dos humilhados às vezes são vistas nesta vida, mas serão plenamente vistas quando aqu’Ele que Se humilhou em suprema medida, até à morte de cruz, for soberanamente exaltado em público e todo joelho se dobrar diante d’Ele. No versículo 11 podemos discernir os dois Adãos. O primeiro tentou exaltar-se e caiu: o Último humilhou-Se e assenta-Se à direita da Majestade nas alturas.
Nos três versículos seguintes, encontramos o Senhor instruindo não o convidado, mas o anfitrião. Ele também deve agir no espírito que é apropriado à graça. A natureza humana é egoísta mesmo em seus benefícios, e enviará seus convites com vistas ao ganho futuro. Se, sob a influência da graça, pensarmos naqueles que nada têm a nos oferecer, não objetivaremos qualquer recompensa terrena. No entanto, há recompensa mesmo para as ações da graça, mas isso é encontrado no mundo da ressurreição que está por vir.
Ensinamentos como esses levaram alguém a exclamar: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus”. Isto foi dito muito provavelmente sob a impressão de que a entrada no reino era uma questão de grande dificuldade, e aquele a comer pão deve ser uma pessoa particularmente favorecida. Essa observação levou o Senhor a falar a parábola da “grande ceia”, na qual mostrou que a porta para o reino deve ser aberta a todos e que, se alguém não entra, é por sua própria culpa. Nesta parábola existe um elemento profético; isto é, o Senhor olhou adiante e falou de coisas que teriam seu cumprimento no dia em que vivemos. É eminentemente a parábola do evangelho.
“Um certo homem fez uma grande ceia e convidou a muitos”. O custo e o trabalho eram dele; o benefício deveria ser conferido a muitos. Os primeiros convidados eram pessoas que já possuíam algo – um pedaço de terra, bois, uma esposa. Estes representam os judeus com seus líderes religiosos na Terra, que primeiro ouviram a mensagem. Considerando-os como um todo, eles recusaram o convite, e foram os privilégios religiosos que já possuíam que os cegaram para não perceberem o valor da oferta do evangelho.
Quando sua recusa foi relatada pelo servo, o dono da casa é representado como “irado” (ARA). Em Hebreus 10:28-29, é dito que a ação de “ultrajar o Espírito de graça” (AIBB) é digna de “mais severo castigo” (ARA) do que o desprezo pela lei de Moisés. O que temos aqui está de acordo com isso. A ira do dono da casa realmente significava que nenhum daqueles que assim desprezavam seu convite deveria saborear sua ceia, como diz o versículo 24, mas as suas entranhas de bondade não se calaram. O servo foi ordenado a que fosse rapidamente e trouxesse os pobres e necessitados – os mais desqualificados do ponto de vista humano.
Estes deveriam ser reunidos das “ruas e becos da cidade”; assim eles representam, pensamos, os pobres e aflitos e os indignos de Israel – os publicanos e pecadores, em contraste com os escribas e fariseus. O próprio Senhor estava agora voltando-Se para eles e, entre esses, o trabalho continuou nos dias registrados nos capítulos anteriores dos Atos dos Apóstolos. Então chegou o momento em que o convite foi totalmente declarado entre eles e, embora muitos tenham respondido, o feliz anúncio foi feito pelo servo: “ainda há lugar”.
Isso levou a uma extensão do bondoso convite. Assim, a palavra ainda é “Sai”, e agora os pobres abandonados nos caminhos e valados (divisas), fora dos limites da cidade, devem ser trazidos para encher a casa. Isto retrata o envio do evangelho para os gentios, onde, no final de Atos, Paulo diz: “Esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão”.
A parábola expõe definitivamente a questão do lado de Deus e não do homem. Ele faz a ceia, envia o Servo, tem Sua própria maneira e enche Sua casa apesar da perversidade do homem. O Servo que Ele envia é o Espírito Santo, pois ninguém menos do que Ele pode empunhar um poder que seja absolutamente convincente. Os subservos, mesmo tão grandes como o apóstolo Paulo, não podem ir além da persuasão dos homens (ver 2 Co 5:11); somente o Espírito do Deus vivo pode trabalhar tão eficazmente no coração dos homens, a ponto de “forçá-los a entrar”. Mas isso, bendito seja Deus, é o que Ele faz e o que fez por cada um de nós.
Ouvindo coisas tais como estas, grandes multidões foram ter com Ele. Muitos há que gostam de ouvir coisas cujo significado não representa nada para si mesmos. O Senhor virou-Se e colocou diante deles as condições do discipulado. A graça de Deus não impõe condições, mas o evangelho que anuncia que a graça conduz nossos pés no caminho do discipulado, que só pode ser pisado corretamente quando nos submetemos a condições muito estritas. Quatro são mencionadas aqui.
1) O Mestre deve ser supremo nas afeições do discípulo; tanto é assim que todos os outros tipos de amor devem ser aborrecíveis quando comparados a esse.
2) Deve haver o levar a cruz ao segui-Lo; isto é, uma prontidão para aceitar a sentença de morte como vinda do mundo.
3) Deve haver o cálculo do custo em relação aos nossos recursos; uma avaliação correta de tudo o que é nosso em Cristo a Quem seguimos.
4) Deve igualmente haver uma avaliação correta dos poderes ordenados contra nós.

Se não considerarmos corretamente qualquer uma dessas condições, muito provavelmente iremos além de nossa medida, por um lado, ou ficaremos cheios de medo e faremos concessões ao adversário, por outro. Se, como o versículo 33 diz, realmente abandonamos tudo o que temos, seremos inteiramente lançados sobre os recursos do grande Mestre a Quem seguimos, e então o caminho do discipulado se torna gloriosamente possível para nós.
Ora o verdadeiro discípulo é sal; e o sal é bom. Em Mateus 5, encontramos Jesus dizendo: “Vós sois o sal da Terra” (v. 13), mas Ele disse isso a “discípulos” (Mt 5:1). Se o discípulo fizer concessões, ele se torna como sal que perdeu seu sabor, e está apto para ser lançado fora. Que palavra para nós! A graça nos chamou e nossos pés foram colocados no caminho do discipulado. Estamos cumprindo suas solenes condições, para que nos tornemos verdadeiramente discípulos? (Jo 8:32) Que nós realmente tenhamos ouvidos para ouvir!


[1] N. do T.: Frank Binford Hole viveu entre 1874 e 1964.

Nenhum comentário:

Postar um comentário