A última parte do capítulo anterior
– versículo 14 ao final – foi falada aos fariseus; no início deste capítulo, o Senhor
novamente Se dirige aos Seus discípulos. O homem rico tropeçou em suas posses caindo
no inferno, e agora o Senhor diz a Seus discípulos que, sendo o mundo o que é, “escândalos [ofensas – JND]” ou ocasiões
de tropeços são inevitáveis. O melhor é evitar ser uma “ofensa” a qualquer outra pessoa, até mesmo para os pequeninos. As consequências
são tão sérias que qualquer coisa é melhor que isso.
No entanto, isso não significa que nunca
devemos falar com nosso irmão por medo de fazê-lo tropeçar. Mas o contrário: se
ele se desviar para o pecado, devemos repreendê-lo e se ele se arrepender,
imediatamente perdoá-lo; mesmo que isso aconteça repetidamente. Podemos imaginar
que podemos correr o risco de fazê-lo tropeçar ao repreendê-lo, mas na verdade
podemos fazê-lo tropeçar por não repreendê-lo. É claro que é assumido que
a repreensão é administrada não na ira humana, mas no poder do amor divino.
Ensinamentos como esse fizeram os discípulos
sentirem que precisavam ter sua fé aumentada. A resposta do Senhor parece implicar
que não é uma questão de quantidade de fé, mas da sua vitalidade. Um
grão de mostarda é muito pequeno, mas está vivo! A fé viva realiza resultados de
uma ordem sobrenatural. Muitas vezes as pedras de pavimentação foram forçadas por
brotos tenros, provenientes de sementes vivas embaixo delas. Até mesmo a vida vegetal
tem poderes que parecem milagrosos e muito mais tem a fé que é viva. No entanto,
nenhuma fé que temos e nenhum serviço que prestamos nos dá qualquer tipo de reivindicação
sobre Deus. Nunca podemos realizar mais do que era nosso dever fazer. Esta parece
ser a verdade inculcada nos versículos 7-10.
O Senhor estava agora a caminho de Jerusalém
e chegamos ao comovente acontecimento referente aos dez leprosos. Todos eles tinham
alguma medida de fé n’Ele, pois apelavam para Ele como Mestre e obedeciam a Sua
direção para ir aos sacerdotes, apesar do fato de que não havia no momento nenhuma
mudança na condição deles. No entanto, quando a purificação chegou a eles, nove
deles continuaram sua jornada aos sacerdotes, de modo a completar sua purificação
cerimonial no primeiro momento. Apenas um adiou a parte cerimonial para dar o primeiro
lugar ao seu Benfeitor. A mente judaica estava mais ligada ao que era cerimonial:
o pobre samaritano estava livre para render louvores e ações de graças ao Salvador
em primeiro lugar e depois receber sua purificação cerimonial. A soberana misericórdia
havia sido dispensada, e ele foi levantado acima dos costumes da lei por um vislumbre
da Pessoa que lhe dispensou a misericórdia. Como resultado, ele recebeu dos próprios
lábios do Senhor, a certeza de estar curado com o reconhecimento de que sua fé havia
sido o instrumento para a cura. Isso valeu muito mais do que qualquer garantia que
ele pudesse obter dos sacerdotes. A fé inteligente sempre coloca Cristo em primeiro
lugar.
Nos versículos 20 e 21, Lucas estabelece
a ignorante incredulidade dos fariseus em contraste com a fé do samaritano. Eles
só pensavam no reino de Deus chegando com aparências externas, de modo a serem observados
por todos. O Senhor disse a eles que o reino não estava naquele tempo vindo daquela
maneira, mas que já estava entre eles, visto que Ele – o Rei – estava no meio deles.
O reino estava entre eles porque Ele estava entre eles. Os fariseus eram bastante
cegos para perceber isso, mas o samaritano, evidentemente, enxergou isso, daí seu
apressado retorno para dar graças a Seus pés.
No versículo 22, Jesus novamente Se
volta para Seus discípulos, falando dos “dias
do Filho do Homem”, e é claro que é o Filho do Homem que deve tomar o reino,
quando a hora chegar para o seu estabelecimento público, como muito tempo antes
havia sido divulgado, conforme Daniel 7:13-14. Agora eles, como o samaritano, tinham
fé e já viam o poder e autoridade de Deus investidos no Senhor Jesus. Eles também
iriam, no devido tempo, ver o Filho do Homem revelado em Sua glória, e disso
fala o versículo 30 bem como o versículo 24. Mas enquanto isso Sua rejeição iria
sobrevir, e as palavras ditas ao final do capítulo foram evidentemente endereçadas
a eles como representantes dos santos que deveriam estar aqui até o tempo em que
Ele for revelado em glória. Muitos foram os que desejaram ver um dos Seus dias e
não o viram.
À medida que o tempo do Seu advento
se aproxima, duas coisas se tornarão proeminentes. Primeiro, haverá muita atividade
por parte dos poderes do mal. Os impostores se apresentarão aqui e ali, como o versículo
23 indica. Em segundo lugar, haverá na parte dos homens uma absorção generalizada
pelas coisas da Terra. Nos dias de Noé e de Ló, os homens estavam absortos em seus
prazeres, em seus negócios e em seus projetos; consequentemente, o julgamento os
pegou de surpresa e todos eles morreram. Assim será no dia da revelação do Filho
do Homem.
O grande pensamento incorporado no versículo
33 ocorre não menos que seis vezes nos evangelhos, e o Senhor parece tê-lo pronunciado
em quatro ocasiões diferentes. O contexto aqui é muito impressionante. Os homens
mergulham nas coisas da Terra procurando salvar suas vidas. Como resultado, eles
só as perdem. O crente deve abandonar essas coisas em favor das coisas muito maiores
que são reveladas a ele. Ele preserva sua vida, como será muito manifesto quando
o Senhor vier. A esposa de Ló ilustrou esse princípio. Os anjos tiraram seu corpo
de Sodoma, mas seu coração ainda estava lá. Ela perdeu tudo e sua própria vida também.
Fazemos bem em nos lembrar dela.
Aqueles que estiverem na Terra quando
o Senhor vier farão bem em lembrar-se dela também. Se o fizerem, não pensarão em
tentar recuperar suas coisas da casa ou retornar de seu campo. Esse dia virá com
a rapidez do mergulho de uma águia. Assim como as águias se reúnem onde quer que
sua presa seja encontrada, assim o julgamento de Deus alcançará todos os que estão
expostos a ele. O reino, quando estabelecido, será marcado pelo julgamento discriminativo
contra o mal. O pecador será levado em juízo, e os justos serão deixados para desfrutar
da bênção, não importando quão próximos eles tenham estado associados entre si.
Se os fariseus tivessem percebido que o estabelecimento público do reino envolveria
isso, talvez não quisessem levantar a questão de quando ele viria.
É digno de nota que os três casos mencionados
pelo Senhor nos versículos 34-36, supõem o período da noite, cedo de manhã e dia
inteiro, respectivamente. Quando Ele vier, os homens serão instantaneamente presos
em todas as partes da Terra, do jeito que estiverem.